Estádios da Copa: palcos de soluções ambientais – parte 2
Arena Amazônia: 40% de economia de água potável
O estádio capta e reutiliza água de chuva para banheiros e irrigação do gramado, economizando cerca de 40% de água potável.
A irrigação do campo é automatizada e feita por 35 aspersores. Pode utilizar a água dos reservatórios, que têm capacidade para 120 mil litros e armazenam a água da chuva captada pela cobertura, por meio de sete tanques, em uma área de mais de 20 mil m².
Para evitar alagamentos devido aos altos índices pluviométricos de Manaus, a arena possui um sistema de drenagem por gravidade e outro a vácuo, que auxilia na ventilação do gramado. Segundo especificações do projeto, o entorno do estádio está a 11m de altura acima das vias e o nível do pódio tem 14 aberturas para aumentar a ventilação da área interna. A cobertura translúcida possibilita uma maior agem de luz, favorecendo a iluminação natural. A membrana do teto da arena reflete até 75% dos raios solares cujo efeito é a diminuição da temperatura no espaço, bem como do uso de refrigeração.
A reutilização de materiais é outra iniciativa do projeto: durante a construção, 95% do material resultado da demolição do antigo estádio Vivaldo Lima foram reutilizados de forma eficiente. As sobras de concreto, por exemplo, foram usadas para produzir meios-fios e pavimentos. Todo o projeto foi pensado de forma a preservar a diversidade da Floresta Amazônica, a maior floresta contínua do mundo.
A floresta, aliás, serviu de inspiração para o formato da arena, que tem mais de 40 mil lugares e está localizada entre o aeroporto e o centro histórico da cidade, área com presença acentuada de vegetação.
Arena Corinthians: geração de energia vem de fontes renováveis
A sede da abertura da Copa adotou um sistema de geração de energia de fontes renováveis. O escritório alemão Weber Sobek, que fez os cálculos estruturais e o projeto de tecnologia sustentável do estádio, trouxe o conceito Triple Zero, que significa: zero energia, zero emissões e zero desperdício. Assim, toda a energia do Itaquerão é gerada por fontes renováveis do próprio estádio.
Segundo o projeto, as aberturas nos fundos do campo favorecem a ventilação cruzada e a iluminação natural. A cobertura é feita com isolamento térmico na parte superior, junto à membrana transparente, e a cobertura e as laterais do gramado possuem placas fotovoltaicas para captação de energia solar (1MW). Não é permitido no estádio qualquer processo de queima. Dessa forma, evita-se a geração de CO2. Além disso, toda estrutura da arena foi pensada para captar energia eólica.
Inaugurada no dia 10 de maio deste ano, a Arena Corinthians, que tem capacidade para quase de 66 mil espectadores durante a Copa e mais 45 mil após o torneio, fará também o reuso da água de chuva. O piso possui sistema de drenagem no entorno do estádio, o que evita problemas com o acúmulo de água. O terreno estreito foi explorado ao extremo e o número de escadas no pavimento térreo foi reduzido de forma significativa, favorecendo a ibilidade.
A iluminação da Arena Corinthians equivale a 4 mil lux, o dobro do que se viu nos estádios da África do Sul. A ideia é reproduzir a luz clara do dia nos jogos noturnos. As sobras dos materiais gerados ao longo da construção foram devidamente separadas e sua destinação final foi feita de forma ecologicamente sustentável, de acordo com informações do projeto.
Estádio Nacional de Brasília: 18% de redução no consumo de energia
Conhecido como Mané Garrincha, o Estádio Nacional de Brasília é o segundo maior do País, com capacidade para mais de 70 mil pessoas.
O projeto precisou de adequação para que, mantendo sua capacidade, pudesse alcançar um resultado de 18% de redução da energia embutida de matérias equivalente a 43,908 kg de CO2.
Entre as reformulações no projeto do estádio está a adaptação das soluções à ventilação e à iluminação natural, que reduziram a necessidade de ar condicionado e ventilação mecanizada. São usadas lâmpadas LEDs e projetores para iluminação do campo de jogo 25% mais eficientes no consumo de energia. O estádio será capaz de gerar 2.5 megawatts de energia, equivalente ao dobro do seu consumo ou o abastecimento de 2 mil residências por dia.
A Arena de Brasília conta também com captação de água da chuva na cobertura, que poderá ser reutilizada nas bacias sanitárias, na lavagem dos pisos e na irrigação do campo. Mictórios eficientes e bacias sanitárias de dois fluxos e torneiras com controle de vazão também foram projetados com o intuito de reduzir o consumo de água em mais de 4 milhões de litros por ano.
Na cobertura, o uso de uma membrana PTFE cor branca com uma camada fotocatalítica de TiO2 aumenta a durabilidade do material e retira os gases NOx da atmosfera.
A filosofia adotada pelos responsáveis pelo projeto arquitetônico do estádio, Eduardo de Castro Mello e Vicente de Castro Mello, recebe o nome de EcoArena e abrange ao mesmo tempo dois conceitos: ecologia e economia.
Qualquer edificação hoje, disse o arquiteto Eduardo de Castro Mello, deve ser feita pensando na sua sustentabilidade, no futuro desse edifício no longo prazo. Do contrário, explica, ele estará a morrer em alguns anos. “Se estávamos pensando em uma edificação que deixará um legado para a cidade para daqui a 50 anos, então tínhamos que fazer um projeto que nos garantisse um custo de manutenção muito mais baixo que uma construção convencional. A incorporação desses itens [sustentáveis] todos nos garante a redução de R$ 7 milhões no custo da manutenção por ano do estádio e isso é importantíssimo para o investidor, que prefere um estádio que não gaste tanto e que dê um retorno financeiro maior. Essa foi a filosofia que adotamos no projeto, uma arquitetura racional que incorporasse itens que pudessem reduzir os custos de manutenção.”
O estádio foi aprovado para receber a abertura da Copa das Confederações da FIFA 2013, além de sete outras partidas da Copa do Mundo 2014, incluindo uma das quartas de final.
Arena Pernambuco: certificação LEED e preservação da mata nativa
Com capacidade para 46.160 pessoas, a Itaipava Arena Pernambuco, também conhecido como Arena Capibaribe, foi o ponto de partida para a Cidade da Copa, um novo núcleo urbano em São Lourenço da Mata, onde serão preservados mais de 600 mil m² de Mata Atlântica nativa.
Assim como outros estádios construídos ou reformados para a Copa do Mundo do Brasil, o estádio, localizado em Recife, também conquistou nível SILVER da certificação internacional LEED – o selo verde internacional que identifica o empreendimento como sustentável.
A Arena possui um sistema de aproveitamento de água da chuva captada nas arquibancadas e nas coberturas e tem uma estação própria para o tratamento de esgotos e dos efluentes gerados. Também foi empregado no estádio um mecanismo de aproveitamento da iluminação e da ventilação naturais como forma de evitar o consumo desnecessário de energia elétrica em prol do conforto ambiental. Para os resíduos gerados, o estádio contou com recipientes de coleta seletiva espalhados em vários pontos para a destinação correta dos materiais e resíduos gerados. O plantio de mudas também foi ação adotada a fim de incrementar o grupo de características que permitem que a Arena Pernambuco seja considerada um empreendimento sustentável.
A medida com maior destaque, porém, é a usina de energia solar, que funcionará a partir de julho e que pretende atender a 20% do consumo de energia do estádio: painéis solares fotovoltaicos ficarão instalados em uma área de 14,5 mil m² e serão responsáveis por captar a energia emitida pelo sol e transformá-la em energia elétrica, para que possa ser usada em residências e indústrias. Os sistemas de geração solar evitam perdas na transmissão, já que esta é produzida e consumida no mesmo local, além de ser uma forma de energia renovável. O projeto é fruto de uma parceria entre a Odebrecht Energia e a Neoenergia.
Estádio Beira-Rio mostra o seu lado verde para a Copa
Com as reformas para receber os jogos da Copa do Mundo, o Estádio José Pinheiro Borda, ou simplesmente Beira-Rio, ganhou mais uma cor, além das tradicionais vermelha e branca do Internacional: o verde. É um estádio marcado pela sustentabilidade desde o início do seu projeto, com um plano de ações que vão desde a captação de energia solar e água da chuva até a transformação do entulho de demolição em material reaproveitável.
A cobertura é um dos principais diferenciais do projeto. Em membrana de um material reciclado e com maior durabilidade, o politetrafluoretileno (PTFE), e com tecnologia ‘autolimpante’, ela utiliza o mínimo de água possível, além de reduzir a absorção do calor. As 65 folhas estruturais que envolvem o estádio ainda têm uma parte translúcida que permite a entrada de luz natural. Tudo isso foi implantado com o objetivo de minimizar os gastos excessivos e desnecessários com iluminação artificial e condicionadores de ar.
O reuso é outro destaque. A água da chuva que cai na cobertura é reaproveitada para irrigação de jardins e gramados, limpeza de áreas externas, como a lavagem das arquibancadas e descarga de vasos sanitárias. O uso das bacias a um volume de 1,632 milhão de litros. No anel interno, é armazenada a água das arquibancadas, enquanto o anel externo guarda o volume da cobertura.
Nos banheiros, mictórios a seco eliminam os odores e evitam que a água fique correndo. E tanto torneiras quanto duchas são reguladas em razão da pressão no ponto acionado pelo torcedor na válvula.
O Beira-Rio também conta com um cuidado especial com a poluição. No entorno do estádio, os veículos menos poluentes ganharam uma parte exclusiva no estacionamento. Além disso, foi implementado um Plano de Prevenção de Poluição do Solo e do Ar durante a fase de execução de obra, visando reduzir a poluição proveniente das atividades de construção, controlando a erosão do solo, o assoreamento dos cursos d’água e a geração de poeira na vizinhança.
A arena também saiu à frente nos quesitos energia elétrica e resíduos sólidos. Dispositivos com eficiência energética permitem uma redução de, no mínimo, 10% do consumo anual da energia e aproximadamente 75% dos resíduos gerados durante as obras foram destinados para reciclagem ou reaproveitados, não sendo encaminhados para aterros, mesmo que licenciados.
O estádio estreou no Copa do Mundo de 2014 no último domingo, 16, com o jogo entre França e Honduras. E ainda será palco de dois outros jogos desta primeira fase de grupos: Coréia do Sul e Argélia, no dia 22, e Nigéria e Argentina, no dia 25. O Beira-Rio encerra sua participação no mundial com um jogo das oitavas de final, no dia 30.
Castelão: aproveitamento de água da chuva
A reforma no estádio Governador Plácido Aderaldo Castelo durou menos de dois anos, fazendo com que o estádio integrasse o time das arenas brasileiras que possuem a certificação LEED e educação ambiental antes, durante a após sua reforma.
Dentre as medidas de sustentabilidade existentes no Castelão destaca-se a coleta de águas pluviais com tratamento acoplado, medida adotada para que o armazenamento não prejudique a qualidade da água. Esta reserva é utilizada na manutenção do gramado, limpeza e descargas dos banheiros.
Grande parte dos resíduos gerados na reforma do Castelão foi doada para estádios do interior, como o Romeirão, em Juazeiro do Norte, que recebeu 8.600 cadeiras, 50 refletores, o placar eletrônico e as estruturas metálicas dos bancos de reserva. Além disso, 36 mil toneladas de concreto da demolição de parte do antigo estádio foram utilizadas na pavimentação do estacionamento.
O lado externo da arena é revestido por uma pele de vidro, que reflete os raios solares e ameniza o calor, e por chapas de aço inox furadas, que permitem maior circulação de ar. A cobertura com telhas metálicas revestidas com material isolante e policarbonato tem a função de amenizar o calor ao mesmo tempo em que permite o aproveitamento da iluminação natural.
Com a forte incidência de sol do Nordeste brasileiro, uma área de 12,2 mil m² é destinada para a geração de energia fotovoltaica que abastece a iluminação em LED e dos 332 refletores existentes no estádio.
Além de todas essas aplicações sustentáveis que resultaram na certificação LEED, o estádio Castelão também se destaca por abrir as portas para ações de educação ambiental desde os primeiros meses de obra.
Durante a reforma, foram desenvolvidos estratégias de comunicação que divulgavam as ações de sustentabilidade implementadas no estádio, a fim de que certificação LEED fosse alcançada. Fizeram parte dessa ação painéis ilustrativos fixos nas áreas de circulação do estádio e também distribuição de panfletos aos visitantes. Os meios de divulgação das ações sustentáveis da obra também serviram como guia durante a visita.
O trabalho de educação ambiental estendeu-se aos funcionários da Secretaria de Esportes e do Consórcio Arena Castelão, por intermédio de palestras. Todas essas ações foram voltadas a criar consciência sobre a importância da certificação LEED e também para a manutenção do estádio após a Copa.
Fonte: ABES