Empresas devem olhar para o setor social e diversificar o mercado de TI

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Foto: Adobe Stock.

Por Ana Letícia Lucca

O mercado de Tecnologia no Brasil continua em crescimento. De acordo com dados do IDC, é esperado que o setor suba 12% este ano no país e, além dos investimentos na área, podem crescer também as vagas, segundo projeções anteriores: de acordo com o Banco Nacional de Empregos, as oportunidades em TI aumentaram 79,6% de janeiro a outubro de 2023 em relação ao mesmo período do ano anterior. Parte disso se dá porque, desde a pandemia da COVID-19, a transformação digital se tornou uma prioridade estratégica para as empresas.

Afinal, é ela que permite o trabalho remoto, a colaboração online, a escalabilidade e a inovação em serviços digitais. Inclusive, para suprir essa demanda do mercado, muitas empresas, especialmente as maiores e mais estabelecidas do setor de tecnologia, têm criado programas de estágio, trainee ou iniciativas de treinamento destinadas a desenvolver talentos em estágios iniciais de carreira. Estes programas são projetados não apenas para preencher lacunas imediatas de habilidades, mas também para construir uma base de talentos qualificados que possam ar as necessidades futuras da indústria.

Contudo, ao longo da minha presença e estudo sobre o mercado de Tecnologia, percebo que esses programas ainda não estão desenvolvidos para atender pessoas em situação de vulnerabilidade social e econômica, o que seria uma oportunidade para as empresas diversificarem o setor de TI. Trabalho como CRO na Escola da Nuvem, uma organização social sem fins lucrativos que busca a inserção socioeconômica de indivíduos por meio de capacitação técnica e comportamental na área de computação em nuvem, e reparo que são necessárias mudanças estratégicas em níveis organizacional, cultural e estrutural para acolher essas pessoas.

A falta de atenção para com esses indivíduos muitas vezes decorre de barreiras invisíveis construídas por práticas tradicionais de negócios, percepções sociais e econômicas, e pela falta de conhecimento sobre os benefícios da inclusão. Percebo uma tendência das empresas de recrutar dentro das próprias redes de contatos, que muitas vezes são geograficamente e socialmente limitadas, por exemplo. Isso pode excluir talentos de outras regiões ou de grupos sociais menos representados, além de desconsiderar o fato de que pessoas em situação de vulnerabilidade muitas vezes enfrentam estigmas adicionais, que podem vir das próprias equipes de TI nas empresas, se não houver acolhimento e preparo especializado para contratar pessoas de grupos sociais diversos.

Quando as empresas decidem aumentar o investimento em inclusão, percebem que essa não é apenas uma questão de responsabilidade social; muitas delas descobrem que uma força de trabalho mais diversificada e inclusiva pode impulsionar a inovação, melhorar a tomada de decisões e aumentar a competitividade no mercado global. O relatório mais recente da McKinsey sobre diversidade, por exemplo, mostrou que empresas mais diversas em gênero e racialidade, principalmente nas equipes executivas, têm 39% mais chances de alcançar um desempenho financeiro superior em comparação às empresas menos inclusivas. Ou seja, investir em inclusão e diversidade traz benefícios tangíveis e financeiros para a organização. E não apenas ajuda a criar um ambiente de trabalho mais justo e equitativo, mas também promove uma cultura organizacional rica, o que é fundamental para o sucesso e sustentabilidade de longo prazo da organização.

Com base no meu trabalho, digo que para uma empresa se preparar adequadamente para receber pessoas em situação de vulnerabilidade, é fundamental adotar uma abordagem multifacetada que envolva desde a preparação do ambiente de trabalho até a capacitação dos funcionários e a revisão de políticas internas. Essas medidas não só facilitam a integração desses novos colaboradores como também enriquecem a cultura organizacional. Por exemplo, promover a ibilidade; desenvolver programas de mentoria periódicos; manter canais de comunicação abertos; garantir a adaptação do local de trabalho e a flexibilidade de horários quando necessário; e capacitar e envolver a liderança são algumas das estratégias que as empresas podem utilizar para caminhar em direção à uma organização mais inclusiva.

Uma segunda etapa mais complexa é acolher as pessoas em situação de vulnerabilidade nas organizações e equipes de Tecnologia, quando elas forem contratadas. Nessa parte, é necessário criar um ambiente que não apenas reconheça as barreiras que elas enfrentam, mas que também forneça o e necessário para superá-las. Isso implica em uma série de ações estratégicas, políticas e culturais voltadas para a inclusão e o apoio ativo, como processos de recrutamento íveis e flexibilidade nos requisitos de emprego; capacitação contínua; ibilidade tecnológica e adaptações físicas no ambiente de trabalho quando necessário; plano de carreira, assim como reconhecimento e valorização do trabalho prestado; e engajamento da liderança, a fim de que ela se mostre como um exemplo positivo e promovam ativamente uma cultura de diversidade e apoio.

É importante salientar que a inclusão de pessoas em situação de vulnerabilidade e de grupos minorizados no mercado de trabalho não gera benefícios apenas para as empresas, mas também contribui significativamente para a evolução social e a redução de desigualdades. Esses benefícios refletem uma melhoria não apenas na qualidade de vida dos indivíduos diretamente afetados, mas também no bem-estar da sociedade como um todo. Ou seja, essa não é apenas uma questão de justiça social, mas também pode ser um motor potente para o progresso social e econômico. Essa abordagem contribui para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e próspera.

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*A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor.

Ana Letícia Lucca

Ana Letícia Lucca é CRO da Escola da Nuvem. Também é Especialista em Gestão Estratégica de Carreira e possui certificação internacional em Coach pela Lambent.

 


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