Empreendedorismo Social e a irmã gêmea do mercado

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Nas últimas semanas do mês de maio, tive experiências que me surpreenderam a cada momento. Como cidadã, não consigo achar que tudo entrou na esfera da “normalidade alienante”. Tenho questionado o quanto a educação esta banalizada e comercial. A ausência de preocupação do ensino privado, em particular das “faculdades de massa” que investem no grande público oriundo da classe baixa, ou como alguns denominam de “classe emergente”, tem favorecido o reforço da ideologia do mercado, o que é demonstrado por alguns dos meus alunos, quando destacam: “a faculdade é importante para termos salários de grandeza, trabalhar é o mais importante”.

O que isso nos indica? Será que existe uma educação libertadora? Será que estamos formando cidadãos? Estamos diante de uma inversão de valores? Ainda há uma saída para formar jovens comprometidos com a educação e a transformação da sociedade?

Pela primeira vez durante alguns anos de experiência na docência e de contatos com alunos de diferentes classes sociais, senti uma certa tristeza, até mesmo uma angústia ao final de um longo dia. A alienação presente, a ausência de um conhecimento básico tanto da comunicação oral como escrita, a ausência de reflexão sobre a realidade social, política, econômica, entre outras questões me fizeram refletir o quanto o jovem brasileiro está distante da educação transformadora e libertadora.

É lamentável e vergonhoso esse cenário da realidade brasileira. Um país de grande riqueza cultural e de um povo com imensas potencialidades não consegue abrir novos caminhos em direção ao desenvolvimento humano.
Apesar disso, me animam as iniciativas de empreendedorismo social, mesmo que isoladas na maior parte das regiões brasileiras de norte a sul. Isso tem favorecido diferentes públicos ou comunidades locais. A cidadania ativa, por meio da participação da sociedade civil na arena pública, favorece positivamente para que esse cenário não seja tão nefasto. Alguns pessimistas de plantão diriam: “Esses projetos não mudam nada” ou “Esses projetos só reforçam a política neoliberal de enfraquecimento do Estado”.

Não comungo desse pessimismo ideológico radical, mas não poderia deixar de enfatizar que estamos precisando urgente de um conjunto de ações públicas voltadas para a educação, para que somente assim possamos destruir a “bactéria nociva do capitalismo”, que destrói tantas almas jovens.

A sensação de impotência muitas vezes presente, não pode e não poderá ser mais forte que a vontade de continuar lutando e acreditando de que é possível reverter essa situação seja por meio do grito caloroso das manifestações ou pela força e vontade de empreendedores sociais que desenvolvem relevantes projetos educacionais.

Márcia Moussallem

Assistente Social e Socióloga. Mestra e Doutora em Serviço Social (PUC/SP); MBA em Gestão para Organizações do Terceiro Setor. Professora Universitária. Publicou seis livros. Colunista do Observatório do Terceiro Setor.

 


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