É preciso repensar o impacto social e ouvir os beneficiados pelas ações

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Foto: Feliphe Schiarolli (Unsplash)

Por Edmond Sakai

Após arem praticamente um ano letivo inteiro fora das salas de aula, milhões de crianças e adolescentes estão agora retornando às escolas, ainda de forma receosa, pois infelizmente a pandemia da COVID-19 não acabou.

Sem dúvida, este tempo todo em casa, sem convívio com os professores e colegas, vai deixar marcas além da defasagem de aprendizado.

Os aspectos psicológico e emocional da pandemia e do fechamento das escolas em nossas crianças já começa a ser estudado e é preciso entender a extensão desses prejuízos para ajudá-los a retornar à normalidade. 

As pesquisas que já saíram mostram um aumento expressivo na incidência de ansiedade, depressão e estresse. 

Recentemente, li no site do Center for Effective Philanthropy um artigo muito interessante sobre  a necessidade de repensarmos o que de fato constitui impacto social, a partir de ouvir, de forma mais consistente, os impactados pelas ações, ou seja, o público atendido.

O artigo foca justamente em ações educacionais, e como é importante obter um claro dos estudantes que participam de alguma iniciativa ligada à educação sobre o quanto aquela ação de fato impactou suas vidas. 

Pode parecer óbvia importância de ouvir os estudantes, mas o artigo afirma (e eu concordo) que, na prática, obter esse não é fácil. 

Isto porque, em especial na área da educação, estamos acostumados às métricas dos testes de proficiência.

Aqui no Brasil, as políticas públicas educacionais se baseiam nos resultados de provas como o ENEM e o SAEB, por exemplo. Já há um longo debate no campo educacional e pedagógico sobre as limitações e distorções desse foco excessivo na proficiência. 

Eu acho essas métricas importantes, mas concordo com os autores do artigo, que fazem parte da ONG YouthTruth, que realiza pesquisas qualitativas com estudantes: métricas qualitativas de percepção dos alunos sobre como eles sentem a experiência escolar devem ter o mesmo peso dos resultados objetivos do teste, para gerar uma matriz mais completa sobre o impacto real das iniciativas educacionais. 

Impacto é maior para meninas, LGBTQI+ e negros

A pesquisa mais recente que eles realizaram, no final do ano ado, mostrou que metade dos estudantes responderam que estão se sentindo deprimidos, ansiosos e estressados, e esses sentimentos impactaram em seu desempenho escolar.

Um dado importante é que esses sentimentos negativos estão mais presentes entre meninas, estudantes LGBTQI+ e adolescentes negros, latinos e indígenas. 

Aqui no Brasil, também já há um grande corpo de estudos sobre os efeitos do fechamento das escolas e da migração para o ensino à distância.

Uma das principais conclusões é que a pandemia e as medidas de contenção do vírus escancaram a já enorme desigualdade de condições de aprendizado entre os alunos mais ricos e mais pobres.

Os efeitos psicológicos e emocionais também atingem desigualmente os estudantes de acordo com a classe social, gênero, raça e orientação sexual, mas é sentido por todos. 

Já escrevi aqui no Observatório em Movimento sobre a importância das ONGs que atuam no setor educacional para sanar o déficit que ficou neste mais de um ano de escolas fechadas.

O papel das organizações sociais também será fundamental para restaurar o bem-estar psicológico dos estudantes. E isso a por ouvi-los e levar a sério o que eles têm a dizer.

A partir desse , poderemos desenvolver ações mais efetivas e que gerem um impacto mais consistente na vida dessa geração que ficará marcada pela pandemia. 

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Sobre o autor: 

Edmond Sakai é diretor de RI, Marketing & Comunicação da ONG humanitária internacional Aldeias Infantis SOS Brasil. É advogado, foi professor de Direito Internacional na UNESP, professor de Gestão do Terceiro Setor na FGV-SP e Representante da Junior Chamber International na ONU. Recebeu Voto de Júbilo da Câmara Municipal de SP.


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