Divulgar doação não é exibição: é inspiração

Cultura de Doação
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filantropia inspiração
Imagem: Adobe Stock.

Por Luiza Serpa

Já ouviram dizer que “o que uma mão dá, a outra não precisa ver”? Muita gente acredita que filantropia precisa ser assim: discreta, quase secreta. E quando influenciadores mostram suas doações, as críticas logo aparecem, dizendo que estão “querendo likes” ou só buscando visibilidade. Mas será que compartilhar uma boa ação é algo ruim? Ou é, na verdade, uma forma de inspirar mais pessoas a fazerem o bem?

Quando alguém que a gente ira faz algo positivo, dá aquela vontade de fazer igual, não é? Isso não é só “achismo”. Estudos mostram que nos inspiramos nas pessoas ao nosso redor, especialmente naquelas que consideramos exemplos. Na psicologia, isso tem nome: é a Teoria da Aprendizagem Social, de Albert Bandura. Quando um influenciador ou pessoa pública compartilha uma doação, os seguidores veem essa atitude como algo bacana, um comportamento positivo que eles também podem querer adotar.

Para os críticos, ao mostrar a doação, o gesto perde a sinceridade. Mas, calma lá. Uma pesquisa sobre a relação entre doar e o bem-estar do doador (Happiness Runs in a Circular Motion: Evidence for a Positive Loop between Prosocial Spending and Happiness, de Aknin, Dunn e Norton) destaca que ver o impacto da doação potencializa os sentimentos positivos. A pessoa se sente bem ao se ver reconhecida por suas ações, e isso só multiplica a motivação para continuar. Qual o problema nisso?

Em seu livro Norms in the Wild, a pesquisadora Christina Bicchieri mostra que, quando as pessoas veem exemplos de comportamentos desejáveis — como doações e ajuda ao próximo —, isso reforça esses comportamentos como uma norma social. A sociedade, então, tende a adotar atitudes mais generosas e colaborativas, pois o exemplo visível atua como um lembrete e uma inspiração.

Outro estudo, de comunicação, feito por Berger e Milkman, descobriu que ações que despertam emoção, como doações e voluntariado, chamam mais atenção e geram mais engajamento nas redes. Quando uma causa aparece nas redes sociais, ela alcança muito mais gente e, aos poucos, é como se todos estivessem sendo incentivados a fazer parte. E isso é ouro para o setor social! É aquele efeito em cadeia: um compartilha, o outro vê, e a corrente cresce.

Quem me conhece sabe que sempre digo que meu sonho estará realizado quando as doações forem o tema das conversas nos jantares entre amigos. Assim, quando alguém disser que não doa para nenhuma causa, todos acharão essa pessoa estranha.

Quando você compartilha sua filantropia, está criando um ciclo do bem. E as redes sociais, onde todo mundo já está conectado, se tornam ferramentas incríveis para espalhar essas ideias. É educação social e inspiração de forma prática e ível. Quem vê, se inspira. Quem se inspira, pode transformar!

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*A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor.

Luiza Serpa

Luiza Serpa é fundadora e diretora do Instituto Phi, única brasileira no Conselho Estratégico da rede Latimpacto, Responsible Leader da BMW Foundation, fellow da Skoll Foundation, integrante do Conselho da rede NEXUS Global, membro da Entrepreneur’s Organization (EO). Faz parte do comitê da Plataforma Conjunta e foi reconhecida como Empreendedora Social do Ano pela Folha em 2020. Luiza contou sua história num capítulo do livro “Mulheres do Terceiro Setor”, da Editora Leader, que aborda as histórias, cases, aprendizados e vivências de 18 empreendedoras sociais ao longo de sua carreira.

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