Contexto econômico no Brasil e no mundo em 2021

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Neste artigo, Jordanno Santos, sócio diretor da i9Advisory Consultoria, fala sobre o contexto econômico do Brasil e do mundo neste início de ano

Imagem: Unsplash

Por Jordanno Brunno Nicoletta dos Santos

CENÁRIO INTERNO

Em 2021, parece certo que o mundo ará por um processo natural de forte crescimento após grande crise financeira no período anterior causada pela COVID-19. No Brasil, este crescimento também será interessante do ponto de vista do que tínhamos avançado em anos anteriores, a expectativa de mercado está em torno de 3,31%, segundo o Relatório Focus mais atualizado.

Por outro lado, um velho conhecido dos brasileiros volta à tona, o quadro fiscal deteriorado. O país, como todos os outros ao redor do mundo, foi obrigado a gastar recursos que não tinha durante as quarentenas implementadas pelos governantes, e mais, como a economia apresentou forte queda no período, a arrecadação também diminuiu, uma tempestade perfeita, mais gastos e menos receita. A expectativa é que o déficit primário encerre 2020 próximo de 900 bilhões de reais, e o rombo seja perpetuado para 2021.

Mesmo com o assustador resultado fiscal, o Brasil ao longo dos últimos três anos conseguiu reduzir estruturalmente sua taxa básica de juros, chegando ao menor patamar da história, ajudado ainda pelos países desenvolvidos que zeraram suas respectivas taxas e inundaram o mundo de dinheiro. Desta perspectiva, não existe pressão para alta de juro no curto prazo, pois, o país possui elevado desemprego e capacidade ociosa da indústria, mesmo com um forte crescimento em 2021 a economia não retornará aos níveis pré COVID-19, o mundo zerou suas taxas e parece que o Congresso está alinhado com reformas estruturais, nem mesmo o câmbio depreciado gera tantas preocupações assim, o ree para os preços se provou limitado, em outras palavras, inflação controlada, juro naturalmente menor.

Posto isto, juro em patamar baixo significa dívida mais barata. E neste novo contexto, será um pouco mais fácil para o Brasil resolver um déficit gigantesco com taxa SELIC próximo a 2,75% ao ano, segundo projeção Focus, do que uma dívida mediana com taxa SELIC e dois dígitos.

As expectativas para o mercado de trabalho são positivas, mas, dado a característica ainda burocrática das leis trabalhistas vigente no país, a recuperação tenderá a ser um pouco mais lenta do que no resto do mundo. Consequentemente, o forte crescimento do Brasil como dito anteriormente, possivelmente ficará aquém do resto do mundo, em especial EUA.

E isto, contribui para segurar uma possível alta generalizada nos preços, em outras palavras, inflação elevada. Com o desemprego elevado e o fim do gigantesco pacote de auxílio fiscal, o mercado não espera inflação acima da meta perseguida pelo Banco Central.

Os ativos de risco no Brasil, têm tudo para valorizarem, as condições financeiras estão bem favoráveis, existe muito dinheiro circulando nas economias globais, inclusive por aqui. Todavia, já é possível

observar um descolamento entre os ativos de risco local com os ativos de risco global, este último apresentado excepcional recuperação. E o motivo principal foi e poderá ser o cenário político interno.

O cenário político no país sempre traz consigo um risco adicional quando comparado com o mundo, e deve mais uma vez contribuir para o bem e para o mal a evolução dos ativos brasileiros, com destaque para possíveis desentendimentos entre equipe econômica, Executivo e Congresso.

CENÁRIO EXTERNO

No mundo, em 2021, prevalecerá a forte recuperação econômica, com destaque para EUA e China, com expectativas de crescimento na ordem de 4,2% e 9,2% respectivamente.

No caso americano, tanto o governo quanto o seu banco central injetaram cada um mais de 3,5 trilhões de dólares para socorrer a economia dos impactos da COVID-19, e de fato, o resultado será mais claro em 2021. Por se tratar da maior economia do mundo, os EUA têm pouquíssima chance de encontrar dificuldade para financiar seu enorme rombo fiscal. Para melhorar ainda mais esta conta, o Federal Reserve deixou claro que pretende manter a taxa básica de juro próxima de zero, e não tem nenhuma intenção de retirar os montantes injetados na economia por um bom tempo, pelo contrário, a expectativa é que o Fed injete mais recurso na economia e que o governo americano também aprove mais pacotes de estímulos fiscais.

O ponto de atenção nos EUA é a questão geopolítica envolvendo a China, que em uma quebra de braços pode pesar mais para o lado americano, e consequentemente, afetar os ativos, como afetou durante toda a briga observada em 2018 e 2019. Mesmo com Biden vencendo as eleições, o forte crescimento da China nos próximos anos culminará na perda de posição de maior economia do mundo por parte dos EUA, e isto, corrobora a visão de continuação de atritos entre os dois países.

Na China, o país conseguiu controlar a COVID-19 como nenhum outro, e sendo assim, conseguiu sustentar sua economia em 2020 sem muito estresse, sofreu menos que os demais. Novamente, a questão comercial com os EUA pode ser prejudicial, em menor grau para o país asiático, mas, qualquer estresse geopolítico, o mercado tende a se mexer rápido.

Já na Europa, a situação é um pouco mais preocupante, não para 2021 de imediato. Como já dito, o ano será de forte recuperação para todos, natural observar isso em períodos pós crise, e a expectativa por lá é de crescimento na ordem de 5,8%, aqui vale ressaltar que os países europeus foram os que mais sofreram durante a crise da COVID-19.

O bloco seguiu o protocolo e, também, estimulou sua economia de todos os lados, Banco Central Europeu injetou quase 2,0 trilhões de euros e governos também gastaram próximo a isto. O problema é, os países europeus já estavam muito endividados, a taxa de juro já estava zerada, o desemprego permanecia elevado e a economia não crescia, não há expectativa de médio prazo tão boa para o bloco. Com exceção da Alemanha, que é um outro assunto, por lá há dívida controlada, crescimento satisfatório e uma das maiores eficiência econômico-financeiras do mundo.

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Jordanno Brunno Nicoletta dos Santos é graduado em Ciências Atuariais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e mestre em Engenharia Elétrica pela Universidade de São Paulo (USP). É sócio diretor na i9Advisory Consultoria, uma consultoria de investimentos independente.


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