Como as oportunidades de trabalho para os jovens podem contribuir para uma sociedade mais saudável e menos violenta

Por Wandreza Bayona
Em um país marcado por uma desigualdade social evidente, como é o caso do Brasil, onde mais de 70 milhões de pessoas vivem em condições de pobreza, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE), é preocupante constatar que uma parcela significativa dos jovens inicia precocemente uma trajetória associada à criminalidade. Infelizmente, essa realidade é algo muito real e difícil de ser modificada, dada a limitação de o a necessidades básicas como alimentação, educação, saúde e saneamento.
Como uma tentativa de barrar esse efeito manada que acontece nas periferias do Brasil rumo à violência, e resgatar a juventude deste cenário adverso, existem diversos projetos de capacitação profissional e cultural, que buscam oferecer a esses jovens ferramentas para que eles possam conquistar uma vida próspera, resultando em uma sociedade menos violenta, gradativamente. Mas, quando falamos dessas oportunidades para jovens em situação de vulnerabilidade, precisamos pensar em dois pontos fundamentais: essas oportunidades precisam ser atrativas para eles e eles também precisam se sentir aceitos e aptos para ocuparem esses espaços.
Quando falamos em tornar a chance de capacitação atrativa para ele, significa que ela precisa trazer um benefício lógico para esse jovem talento, além do que ele colherá futuramente. Seja através de uma bolsa-auxílio, convênio médico ou odontológico, benefício de alimentação, entre outras possibilidades. Isso porque, em geral, o jovem que fará essa capacitação, além de precisar que as suas necessidades básicas estejam, primeiramente, sendo atendidas, ele também pode carregar o fardo de precisar contribuir ou, até mesmo ser o responsável, pelo o sustento do seu lar. E também é preciso lembrar que, dentro desse contexto de necessidade extrema, ter uma ocupação que lhe gere uma renda, ainda que seja através de um trabalho informal e sem direitos, é mais louvável do que ter um estudo ou um projeto de vida que o leve mais longe.
Outro ponto importante a ser considerado, é que esses jovens precisam saber que todos os lugares podem e devem ser ocupados por eles. Por isso, além do desenvolvimento profissional, cada vez mais se torna necessário o desenvolvimento interpessoal da juventude, através do autoconhecimento, para que a construção de sua autoestima seja feita em cima dos pilares corretos, do ser e do saber. A juventude precisa se enxergar capaz, descobrir suas qualidades e saber que podem transformar o ambiente que estão inseridos.
Através da educação e da descoberta de talento de cada jovem, podemos ver um sonho realizado e uma nova etapa de vida para ele e para as pessoas que estão ao seu entorno.
Por isso, quando almejamos uma sociedade menos desigual, que é o sonho de todos, é preciso pensar primeiro em criar um país que acredita no potencial da juventude e da transformação pela educação, que ofereça mais do que a igualdade e sim a equidade para todos. Investir nessa juventude potencial é a única maneira de garantirmos uma transformação social assertiva e coerente.
Esse processo só acontece com a formação de rede, lembrando que juntos podemos ser mais em tudo que quisermos!
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A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor.
*Wandreza Bayona é diretora executiva do Instituto Ser+ que desde 2014 atua na criação e desenvolvimento de oportunidades para a juventude, formada em Serviço Social pelo Centro Universitário FMU, com especialização em responsabilidade social corporativa e terceiro setor pela universidade FIA (Fundação Instituto de istração) e LDR pela Saint Paul. Possui mais de 20 anos de experiência na área de Responsabilidade Social Corporativa, com foco em desenvolvimento e implantação de programas de RSC.