Com Reflexão, RESISTIMOS!

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Crédito da imagem: Mídia Ninja

Começo esse artigo com a reflexão inicial de que aprendemos muito no processo de diálogo com as pessoas que convivemos, sejam elas amigas ou familiares. A segunda reflexão refere-se à tentativa em compreender o que motiva as pessoas em apoiar um candidato da extrema direita como Jair Bolsonaro.

Tenho várias hipóteses a partir das análises e depoimentos diversos que são expostos todos os dias nos inúmeros canais de comunicação. Porém, resolvi pesquisar no meu microuniverso íntimo de alguns amigos e familiares o motivo, o porquê, a justificativa em apoiar um homem que ataca as minorias sociais e enaltece questões relacionadas à defesa da tortura, a volta do regime militar no Brasil, homofobia, preconceito racial, sexismo, entre outras, que atingem diretamente os direitos humanos.

Entretanto fiquei perplexa com as diversas respostas e justificativas. Uns transitavam entre o desânimo e o descrédito da vida em sociedade e outros enalteciam sutilmente valores individualistas, com uma carga de desprezo, raiva e ódio contra os pobres e negros. Destacaram ainda a necessidade de eleger um político “não corrupto e evangélico”, que resgatasse a “ordem e o progresso”, destruídos pelos comunistas brasileiros.

Por outro lado, verifiquei certa relutância de outras pessoas em justificar esse apoio e afinidade com as ideias de Bolsonaro, ou seja, “não gosto de discutir política, repeito a escolha de todos… é melhor falarmos sobre outros assuntos”. Essa frase de uma amiga me fez lembrar o grande filosofo Sócrates, que dizia que “uma vida sem reflexão não vale a pena ser vivida”.

A narrativa dos poderosos que roubam a alma e transformam humanos em seres apáticos, desanimados, violentos e egoístas é o caminho que alguns amigos e familiares queridos estão fadados a percorrer. O pior: não percebem que são apenas meros soldadinhos a serviço dos interesses dos grandes ditadores do capital, mesclados com uma ideologia desumana revestida de valores religiosos.

Refleti sobre tudo que escutei e fiquei abatida por uma melancolia em alguns momentos. Não por essas pessoas de “consciência ingênua”, que um dia poderão acordar e avançar para uma “consciência crítica”, mas em saber que estamos diante de uma guerra ideológica do grande capital contra a sociedade, e que infelizmente muitos não conseguem questionar e compreender esse jogo sujo que afeta negativamente a todos nós.

Não acredito que vivemos em uma sociedade polarizada no Brasil, mas estamos diante de uma guerra de classes e de narrativas, onde uns lutam pela democracia plena, saúde, habitação, educação para todos e respeito a dignidade humana, e outros lutam e defendem a “família, a propriedade, a ordem e o progresso”.

Acredito que é nessa guerra sutil e cruel que a narrativa do capital invade inúmeras almas, seja por meio dos diversos instrumentos de comunicação, grande mídia, redes sociais, ou pelos ostensivos templos religiosos que invadem e exploram delicadamente  “almas cegas e ingênuas”.

Contudo, nessa guerra existe luta e resistência de uma grande parte da sociedade civil que os poderes públicos e privados tentam calar de diferentes formas. Esses lutam contra a narrativa do Estado mínimo, da militarização, da tortura, do individualismo e da violência contra os direitos humanos.

O discurso ideológico do pessimismo, de que não existe solução para o Brasil e que todos os políticos são corruptos não faz parte da narrativa ideológica dessa parte da sociedade, que está presente nos movimentos sociais, coletivos comunitários, defensores dos diretos humanos e de uma classe política comprometida com o povo.

A narrativa ideológica perseguida pelas pessoas de “consciência crítica” diz respeito à construção diária contínua de um projeto coletivo em que todos os homens e mulheres possam viver com dignidade, no caminho da participação efetiva de toda a sociedade civil em todas as instâncias e no fortalecimento de um Estado que represente os interesses de todos os cidadãos.

É por essa narrativa que muitas guerreiras e guerreiros, no decorrer da história do Brasil, lutaram e continuam lutando, resistindo.

Presente Marielle e Anderson e todas as mulheres e homens que aram por essa curta vida, refletindo, lutando e resistindo.

Márcia Moussallem

Assistente Social e Socióloga. Mestra e Doutora em Serviço Social (PUC/SP); MBA em Gestão para Organizações do Terceiro Setor. Professora Universitária. Publicou seis livros. Colunista do Observatório do Terceiro Setor.

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