Cenário político brasileiro conturbado assusta investidores

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Imagem: Pixabay

Por Jordanno Santos

Fevereiro de 2021 parecia o mês da recuperação, e isto foi verdade até a penúltima semana, com os mercados apresentando excelentes retornos, tanto no Brasil como no mundo, refletindo o otimismo com a rápida recuperação econômica e possibilidade de mais estímulos monetários e fiscais nos países desenvolvidos.

Todavia, tudo mudou no final da penúltima semana e começo da última semana do mês. Primeiro, no Brasil, a decisão de Bolsonaro de trocar o presidente da Petrobras derrubou fortemente os mercados, com os investidores receando uma nova rodada de interferências políticas nas empresas estatais e o possível abandono de pautas econômicas.

Em dois dias, as ações da Petrobras caíram mais de 25% e o Ibovespa, principal índice
de ações do mercado brasileiro, despencou mais de 5%. Este é um tema muito sensível e caro ao mercado.

Qualquer sinal do atual governo de abandonar ou mesmo afrouxar pautas econômicas, como privatizações, controle de gastos e reformas estruturais, será refletido imediatamente no preço dos ativos financeiros, com os investidores cobrando maiores taxas de juros e desencadeando uma série de ajustes na economia real, como inflação mais alta e desemprego elevado.

Para completar a tempestade perfeita, nos EUA, os investidores começaram a precificar um risco de inflação mais alta já no curto prazo, por conta da rápida recuperação da economia, o que obrigaria o banco central americano, o Federal Reserve, a elevar sua taxa básica de juro um pouco mais rápido, encarecendo o custo do capital das empresas, principalmente as de tecnologia, que possuem maior endividamento.

Na última semana do mês, o Índice Nasdaq, principal índice acionário de empresas de tecnologia do mundo, recuou mais de 5%. Neste ponto acima, existe uma grande questão que paira no cenário atual, os investidores estão caminhando totalmente na contramão dos discursos e relatórios do banco central americano, o Federal Reserve, que praticamente escreveu em pedra que não pretende elevar a taxa básica de juro tão cedo.

Por outro lado, é fácil perceber o porquê desta euforia de mercado, com tanto dinheiro na economia, as especulações serão muito mais frequentes, aumentando o grau de dificuldade de se investir, e, posto isto, se torna cada dia mais necessário o auxílio de um profissional de investimento qualificado e constante acompanhamento dos riscos inerentes às alocações realizadas.

Vale destacar que, pela primeira vez, a COVID-19 não foi, pelo menos sozinha, a principal norteadora dos mercados ao longo do mês, mesmo com as economias intensificando as quarentenas por conta do aumento de casos, novas cepas e vacinação ainda em ritmo lento.

Neste contexto, no mês, os títulos públicos indexados à inflação (NTN-B ou Tesouro IPCA) rentabilizaram em média -1,52%, enquanto, os títulos públicos prefixados (LTN e NTN-F ou Tesouro Prefixado) rentabilizaram em média -1,18%. Os títulos públicos pós-fixados (LFT ou Tesouro SELIC) apresentaram retorno médio de 0,05%, abaixo do ativo livre de risco, representado pelo CDI, que rentabilizou 0,13%.

O Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, rentabilizou -4,37%. No exterior, o S&P 500 e o MSCI World, principais índices globais de ações, rentabilizaram 2,61% e 2,45% respectivamente.

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Sobre o autor:

Jordanno Brunno Nicoletta dos Santos é graduado em Ciências Atuariais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e mestre em Engenharia Elétrica pela Universidade de São Paulo (USP). É sócio diretor na i9Advisory Consultoria, uma consultoria de investimentos independente.


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