Sobreviventes: como vivem os indígenas Guarani da capital paulista
Indígenas seguem resistindo às interferências em sua cultura e lutando por seu pequeno pedaço de terra

A palavra “guarani”, na língua guarani, significa “guerreiro”. O significado mostra plenamente o que são esses indígenas, que sofrem há 519 anos um massacre, com perda de suas terras, escravidão e interferências na sua cultura.
Quando espanhóis e portugueses chegaram à América, por volta de 1500, os indígenas Guarani já formavam um conjunto de povos com um idioma em comum, um modo de ser que mantinha viva a memória de antigas tradições e que praticava uma agricultura produtiva.
É essa tranquilidade que os povos Guarani sonham em ter de volta um dia. Localizadas no distrito do Jaraguá, na zona noroeste da capital paulista, as aldeias Tekoa Pyau, Tekoa Ytu e Tekoa Itakupe são algumas das aldeias Guarani que resistem às interferências do homem contemporâneo e lutam pelo pequeno espaço de terra que sobrou.
O Observatório do 3º Setor esteve nessas três aldeias e pôde ver de perto toda a precariedade que os indígenas que vivem nelas enfrentam: esgoto a céu aberto, rodovia próxima, falta de espaço. Apesar de tudo, eles se sentem felizes por conseguirem resistir e só têm um pedido: o seu espaço de terra.
Nessas aldeias, as crianças estudam até os 7 anos a língua de seu povo. Existe o Centro de Educação e Cultura Indígena (CECI) Jaraguá, que atende crianças de 0 a 5 anos e 11 meses da comunidade Guarani da aldeia Tekoa Pyau. Lá, as crianças falam sua língua e trabalham sua cultura. O CECI também oferece três refeições diárias para as crianças.
Existe um posto médico na aldeia Tekoa Ytu, mas que não funciona 24h por dia. Os Guarani sobrevivem com o dinheiro que ganham pela venda de sua arte, produzida com elementos encontrados na natureza. Eles também produzem remédios naturais com mel de abelhas cultivadas na própria aldeia.
Nessa aldeia, os moradores têm nomes indígenas e nomes não indígenas. O cacique Natalício lidera a aldeia e contou sobre as dificuldades e o sonho de ter a sua terra. Todos os indígenas que conversaram com o Observatório só tinham um pedido: ter sua terra e viver em paz. O cacique conta que mesmo aquele pequeno espaço de terra está ameaçado por processos judiciais.
A Aldeia Tekoa Itakupe prefere viver isolada e não revelar o local exato em que se encontra, por medo de represálias e ameaças. O Observatório teve a permissão de conhecer a aldeia. Lá, vivem 13 famílias em um lugar com uma vista linda e uma energia inexplicável. Um lago com peixes que os próprios indígenas alimentam e pescam. Mas viver no meio de uma das maiores metrópoles do mundo tem seu preço.
Os recursos que a natureza oferecia no ado agora são bem limitados. Os indígenas precisam de alimentação, mantas e agasalhos, principalmente para as crianças. Sofrem também com as doenças trazidas pelo homem branco. Mesmo com tantas dificuldades, são felizes e cantam com a certeza de que Nhanderu (Deus) vai os proteger e devolver a terra que eles precisam para sobreviver.
Atual situação dos indígenas no Brasil
No último dia 19, o presidente Jair Bolsonaro assinou uma medida provisória para transferir a função de demarcar terras indígenas da Fundação Nacional do Índio (Funai), vinculada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, para o Ministério da Agricultura.
O presidente Jair Bolsonaro afirmou, no dia 20, que quem decide sobre o assunto é ele e que não vai demarcar terra indígena por considerar que eles já têm áreas demais em suas mãos. “Quem decide na ponta da linha sou eu e eu assino decreto demarcatório. Eu não vou nenhuma nova reserva indígena no Brasil”, afirmou em um evento em Guaratinguetá (SP).
O Ministério Público Federal promete todas as providências cabíveis para impedir a transferência da demarcação de terras indígenas da Funai para o Ministério da Agricultura.
24/06/2019 @ 12:58
Interessante o artigo, bem realista e atual! Parabéns
31/07/2019 @ 17:32
[…] documentário aborda como é a vida nas aldeias Tekoa Pyau, Tekoa Ytu e Tekoa Itakupe, que estão localizadas no distrito do Jaraguá, na zona noroeste da capital paulista. Entre os […]
06/09/2019 @ 11:12
[…] também falou sobre a poluição dos rios e da terra. “A nascente do rio no Pico do Jaraguá está tão poluída que tive que levar meus filhos para outra região para conseguir ensiná-los a […]