Brasil: “Pobre bom é pobre morto”

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As atrocidades que estamos vivendo no Brasil em alguns momentos me deixam desanimada. Na grande maioria das vezes, a indignação toma conta da minha alma.

Infelizmente, a grande a maioria da população encontra-se em estado de apatia ou hipnose profunda. Poderia afirmar que esse fenômeno é resultado do desânimo com relação a nossa política e dos escândalos que verificamos no nosso cotidiano. Mas também percebo que uma grande parte das pessoas vive em seus barquinhos ou bolhas isoladas, como se não fizessem parte desse mundo, consequência do individualismo “maravilhoso do mundo capitalista”.

Porém, o que mais me assusta na atual conjuntura é a “cultura da violência” e a “criminalização dos pobres”. É assustador o estado de barbárie que estamos vivendo a nível mundial. No Brasil vivemos uma guerra e um extermínio da população pobre. Todos os dias presenciamos injustiças, seja no meio urbano ou rural. Prisões absurdas, como de Rafael Braga (único jovem negro preso nas manifestações de 2013), assassinatos de Ricardo Nascimento (carroceiro, morto com três tiros no peito por policiais), José Raimundo (líder camponês e quilombola), entre outros que são assassinados todos os dias e não fazem parte do noticiário.

Segundo o Atlas da Violência, publicado em 2017, as vítimas são, em especial, jovens e negros. Mais de 318 mil jovens foram assassinados no Brasil entre 2005 e 2015. A cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. Além de todas essas injustiças, destaco que o Brasil é o país que mais mata os defensores e defensoras dos direitos humanos. 90% dos assassinatos concentram-se no Pará, Rondônia e Maranhão, segundo a Anistia Internacional.

Entretanto, apesar de constatar que estamos diante de uma barbárie que atinge a todos nós, infelizmente a sociedade brasileira (uma grande parte) está alheia a essas questões, e, além disso, valida e apoia o autoritarismo e violência do Estado.

As sequelas das expressões da questão social atingem a todos. É lamentável que muitos ainda tenham a ilusão de que estão protegidos, vivendo sua vidinha cotidiana e assistindo ao mundo ar pela janela de suas casas.

Somos poucos os indignados, mas vamos continuar lutando e remando em nosso pequeno barco na busca incessante da verdadeira justiça e cidadania para todos.

Brasil… Basta!

Soltem Rafael Braga!

Justiça aos camponeses, à população indígena e quilombola!

Justiça aos pobres, jovens, negros!

Márcia Moussallem

Assistente Social e Socióloga. Mestra e Doutora em Serviço Social (PUC/SP); MBA em Gestão para Organizações do Terceiro Setor. Professora Universitária. Publicou seis livros. Colunista do Observatório do Terceiro Setor.

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