Brasil: O Inferno Tropical

Recentemente recebi uma mensagem de um jornalista criticando meus artigos, crônicas e poemas. Estava bem incomodado, afirmando que só via violência, dores, tristezas, angústias, sofrimentos e raiva em tudo que escrevia. Inclusive, me deu um conselho: “seja mais leve, escreva com leveza”.
No primeiro momento, senti raiva… pois estava diante de um “macho” que ainda pensa e imagina que uma mulher é um cordeirinho. Mas logo transformei essa crítica em mais um aprendizado colorido e rico para a minha alma feminina.
Acredito que necessitamos de leveza, de alegria, mas necessitamos olhar para a vida, para o mundo com dor, sofrimento, indignação e resistência. Sim, necessitamos ver a totalidade da vida real, com todas as suas contradições.
A naturalização da violência é um inferno, a ausência de justiça é um inferno, o silêncio da sociedade é um inferno.
Nesse inferno moram o preconceito, o racismo, a xenofobia, a homofobia, que são alimentados tanto na esfera pública como na esfera privada.
Cruzes e sangues espalhados no cemitério de vozes silenciadas, de homens e mulheres, como MOISE KABAMGABE, cidadão congolês, refugiado. Assassinado brutalmente no dia 24 de janeiro de 2022, no Rio de Janeiro.
São Marieles, Ricardos, Josés, Raimundos, Marias, Beneditas, que todos os dias são jogados no cemitério do inferno dos humanos lixos.
Justiça?! Justiça?! Justiça?! Uns gritam, continuam gritando com a voz rouca, cansada, e com o sangue no coração e força na alma. Outros, assistem no noticiário da TV, comendo pipoca, como um espetáculo de um filme de ação à la americano.
Sociedade que mata, sangue que jorra na pele do outro, sociedade que se mata, no sangue que não mais existe dos mortos vivos que nada sentem, nada são.
Inferno tropical? É aqui mesmo, ele existe, ele é real, ele queima, ele mata, ele tem injustiça, desigualdade… e ainda tem carnaval e festa em tempos de pandemia.
Ele tem nome: Brasil verdinho e amarelinho.
*A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor.
08/04/2022 @ 07:59
Morar no Brasil e querer leveza deve ser um cômico, um unicórnio ou um adepto di “gratiluz”. Concordo contigo ao 100%