Brasil falha no combate à violência contra crianças e adolescentes

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No mês em que se comemora o Dia Mundial da Não-Violência e Cultura de Paz, o Observatório do Terceiro Setor conversou com profissionais que atuam em prol do bem-estar de crianças e adolescentes para compreender a importância do combate à violência contra esse grupo

combate à violência contra crianças e adolescentes
Foto: Adobe Stock

Por Ana Clara Godoi

Uma pesquisa da Ipsos, em parceria com a Fundação José Luiz Edygio Setúbal (FJLES) e o Instituto Galo da Manhã, aponta que a maioria das pessoas entrevistadas (71,8%) defendem o diálogo como melhor forma de educar uma criança. Por outro lado, 81,6% ainda afirmam que crianças e adolescentes devem sempre obedecer aos mais velhos sem questionamentos e, quando questionados se tomariam alguma atitude ao ver uma criança sofrendo maus-tratos na rua, 45% dos entrevistados responderam que não fariam nada.

Os índices de violência contra crianças e adolescentes cresceram nos anos de pandemia, de acordo com o Relatório Luz 2022. Somente me 2021, foram registradas 119,8 mil denúncias contra esse tipo de violência no Disque 100. No entanto, análises mostram que a subnotificação da violência contra esse grupo também cresceu no mesmo período.

De acordo com o Anuário de Segurança Pública, as medidas de isolamento social fizeram com que equipamentos de auxílio a esses grupos, como a escola, interrompessem suas atividades, o que impediu a identificação de casos de violência. Outro fator que contribui para a subnotificação é o local em que os atos de violência são praticados; dados do Disque 100, canal de ouvidoria nacional, mostram que 81% dos casos registrados ocorrem dentro de casa.

Consequências para o resto da vida

O professor Lino de Macedo, do Instituto PENSI, explica que embora o processo de aprendizagem precise de muita repetição, poucas cenas de violência são suficientes para marcar a vida de uma criança de maneira negativa.

“Uma pessoa medrosa não se aventura nas coisas da vida, ‘protege-se’ de forma desnecessária. Tem dificuldade em tomar iniciativas e seus projetos estão sempre comprometidos. E o pior pode acontecer, muitas vezes, o abusado, o violentado, ao se tornar adulto tende a repetir o que fizeram com ele e torna-se também um abusador ou violentador”.

Para Lino, é de extrema importância que toda a sociedade se mobilize para proteger as crianças de adultos incapazes de cuidar bem e amorosamente delas.

O papel do terceiro setor no combate à violência

Em entrevista para o Observatório do Terceiro Setor, a responsável pelo advocacy da FJLES, Márcia Woods, destaca o comprometimento da organização com a cultura de paz. “O combate à violência e aos maus-tratos é um tema prioritário na Fundação e já é considerado um problema de saúde pública, já que a exposição precoce à violência pode prejudicar o desenvolvimento cerebral e produzir danos em outras partes do sistema nervoso. O desenvolvimento saudável das próximas gerações, considerando os aspectos físicos, psicológicos e sociais, dependem de ambientes saudáveis e seguros”.

Uma das principais ações da sociedade civil em relação ao tema é a Coalizão Brasileira pelo Fim da Violência contra Crianças e Adolescentes, um acordo entre organizações que tem como objetivo entender a violência e desenvolver estratégias que, futuramente, podem se tornar políticas públicas de proteção e auxílio a esse público.

A Fundação José Luiz Edygio Setúbal (FJLES), entidade do terceiro setor que produz e divulga conhecimento científico sobre saúde infantil, além de promover ações que visam garantir os direitos humanos das crianças e adolescentes, é membro da Coalizão e financia as atividades com foco em advocacy. A atuação da FJLES contribui diretamente para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 3 e 16, metas da Agenda 2030 da ONU que promovem respectivamente saúde e bem-estar e a cultura de paz.


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