Brasil: 9 milhões deixaram de comer por não terem dinheiro na pandemia

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Esses 9 milhões de brasileiros deixaram de realizar alguma refeição por falta de dinheiro. Levantamento realizado pelo Ibope e pelo Unicef também revelou que lares com crianças e adolescentes sofreram com a piora na qualidade da alimentação, contribuindo para a obesidade

Foto: Paulo H. Carvalho | Agência Brasília

Por: Mariana Lima

Uma pesquisa realizada pelo Ibope em parceria com o Unicef com adultos que vivem com adolescentes e crianças entre 4 e 17 anos mostrou como a pandemia vem mexendo nas mesas dos brasileiros.

De acordo com o estudo, 21% dos entrevistados afirmaram que vivenciaram momentos em que os alimentos acabaram e não havia dinheiro para comprar mais. Entre os que vivem com crianças e adolescentes em casa, esse percentual chegou a 27%.

Sem ter a quem pedir auxilio, como programas de distribuição de alimentos, 6% disseram que a única saída foi deixar de comer.

Desta forma, cerca de 9 milhões de brasileiros deixaram de realizar alguma refeição por falta de dinheiro. Nos lares com crianças e adolescentes, esse percentual chegou a 8%.

O levantamento ainda destaca que a comida, quando tem, é de pior qualidade. No total, 49% dos brasileiros sofreram alguma mudança nos hábitos alimentares neste período de quarentena.

Entre as famílias que vivem com crianças ou adolescentes, o impacto foi ainda maior: 58%. Isso inclui o aumento do consumo de alimentos industrializados, refrigerantes e fast food, o que contribuiu para outra epidemia: a obesidade entre crianças, adolescentes e suas famílias.

De acordo com o levantamento, 55% dos entrevistados informaram que o rendimento caiu desde o início da pandemia. Na maior parte dos casos, a redução se deu por causa das demissões, uma vez que 64% afirmaram que estavam trabalhando antes da chegada do coronavírus no país. Contudo, no momento da pesquisa, realizada em julho, este percentual havia caído para 50%.

Os lares com crianças e adolescentes foram drasticamente afetados também neste campo: nessas casas, 63% afirmaram que o rendimento caiu. Em 25% desses lares, a renda diminuiu pela metade. Já nas casas sem crianças, essa mesma redução foi observada por 14%.

O impacto nos estudos

O estudo também avaliou o impacto da pandemia na educação e revelou que 91% das crianças e adolescentes continuaram realizando as atividades escolares durante a pandemia, de acordo com os pais entrevistados.

O percentual chamou a atenção do Unicef, que ressaltou a necessidade de questionar a qualidade desse vínculo escolar que foi mantido remotamente nos últimos meses.

Deste grupo que continuou realizando as atividades escolares mesmo de casa, a pesquisa ainda apontou uma disparidade entre a rede pública e a particular.

Nas escolas privadas, 94% dos alunos seguiram realizando as atividades, enquanto na rede pública foram 89%. A internet foi o meio utilizado por 97% dos estudantes da rede particular para seguir estudando, e 81% da rede pública.

Vale ressaltar que as atividades remotas não demandaram dedicação somente dos estudantes. A maioria (73%) afirmou que eles tiveram ajuda de alguém em casa para realizar as atividades. E 63% receberam tarefas cinco dias por semana para serem cumpridas.

A pesquisa foi feita entre os dias 3 e 18 de julho, com entrevistas por telefone com 1.516 pessoas acima de 18 anos de todas as regiões do país.

Fonte: El País Brasil