Quem é o ativista brasileiro detido por Israel ao tentar levar ajuda humanitária à Faixa de Gaza

Direitos Humanos
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Thiago Ávila, referência no ecossocialismo no Brasil, foi preso pela Marinha israelense quando se aproximava da Faixa de Gaza em barco com ajuda humanitária

O ativista Thiago Ávila, fala com imprensa durante a sua chegada no aeroporto de Guarulhos, após ser preso e deportado pelo exército israelense ao tentar
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

O comunicador e ativista brasileiro Thiago Ávila foi detido pela Marinha de Israel ao se aproximar da Faixa de Gaza em uma embarcação com ajuda humanitária, na última segunda-feira (9). Ele integrava a Coalizão da Flotilha da Liberdade, grupo internacional que denuncia o bloqueio imposto por Israel e defende a abertura de um corredor humanitário na região.

Conhecido por sua atuação em causas socioambientais. Cofundador do Movimento Bem Viver e um dos principais nomes do ecossocialismo no Brasil, ele coordenava uma equipe de 12 ativistas de países como França, Alemanha, Holanda e Turquia.

O grupo buscava entregar ajuda humanitária ao povo palestino, denunciar o bloqueio israelense e pressionar pela abertura de um corredor de o à região.

Após a prisão, Thiago foi mantido por quatro dias em greve de fome, punido com isolamento e transferido para uma cela solitária.

Segundo a ONG Adalah, que oferece assistência jurídica aos ativistas, ele sofreu ameaças de permanecer sete dias no confinamento, além de enfrentar privação de sono, alimentação inadequada, falta de água potável e restrição ao direito de defesa.

A missão humanitária atual não foi a primeira tentativa do ativista de romper o cerco. Em maio deste ano, ele sobreviveu a um ataque com drones contra outra embarcação próxima à costa de Malta.

No mesmo mês, a organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) denunciou as severas restrições à entrada de ajuda humanitária em Gaza. Segundo a entidade, as propostas de controle dos governos de Israel e dos Estados Unidos comprometem a neutralidade e a eficácia do socorro. O número de pacientes com desnutrição teria aumentado 32% nas últimas semanas apenas na Cidade de Gaza.

Histórico de luta

Nascido em Brasília, em 1986, Thiago tem 38 anos e se autodefine como uma “formiguinha revolucionária”. É conhecido pela atuação em mutirões agroecológicos, construção de casas com técnicas sustentáveis, hortas e escolas em comunidades vulneráveis, além do engajamento contra despejos.

Ele é fundador do Movimento Bem Viver — inspirado em filosofias indígenas andinas —, além de ter participado da criação dos coletivos Insurgência (2013) e Subverta (2017). Também atuou na chegada do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) ao Distrito Federal e defende uma transição sistêmica baseada na justiça climática, agroecologia, poder popular e autogestão.

Deportação e retorno ao Brasil

O Ministério das Relações Exteriores de Israel informou a deportação do brasileiro Thiago Ávila e de outros ativistas ligados à Coalizão Flotilha da Liberdade (FFC, na sigla em inglês), organização que atua contra o bloqueio imposto por Israel à região.

O Itamaraty confirmou o retorno de Thiago ao Brasil e emitiu nota pedindo o fim dos ataques de Israel à Faixa de Gaza. O ministério destacou que atuou para garantir a segurança e a integridade física do brasileiro desde a interceptação do veleiro.

Na manhã de 13 de junho, ao desembarcar no Brasil enrolado na bandeira nacional, Thiago falou à imprensa:

“Cada irmão, irmã que falou sobre heróis… isso não tem nada a ver com herói. A verdade é que a gente não precisa de herói no mundo de hoje. A gente precisa de solidariedade, de coragem, de afeto, de amor e de humanidade nesse momento. A gente tentou o máximo que a gente pôde levar a nossa missão humanitária com alimentos, medicamentos, muletas, filtros de água, próteses para crianças amputadas, e a gente foi impedido por um Estado racista, supremacista, que há oito décadas pratica genocídio, limpeza étnica”.

Thiago Ávila também fez um apelo por esforços globais para romper o bloqueio israelense, por meio de manifestações, boicotes, cortes de investimentos e sanções.

Atualmente, cerca de 2 milhões de palestinos vivem há mais de três meses sob bloqueio, com o limitado a alimentos — fornecidos por somente uma empresa sediada nos Estados Unidos.

As Nações Unidas condenam a restrição a outras organizações e alertam que cerca de 6 mil caminhões com ajuda humanitária aguardam na fronteira com o Egito para entrar em Gaza.

Fontes: Uol, BBC News Brasil e Rádio Agência Brasil.