Astrônoma cria projeto para incentivar o interesse de crianças pela ciência

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A astrônoma brasileira Duília de Mello é consultora da Nasa e atua para enfrentar o machismo na área e incentivar mais mulheres a seguirem a profissão

Foto: Arquivo pessoal/Reprodução

Por: Mariana Lima

A consultora da Nasa Duília de Mello, de 56 anos, saiu de Brás de Pina, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Desde pequena era curiosa sobre o que havia no espaço, sendo que nenhum professor foi capaz de sanar suas dúvidas.

Foi em um colégio particular, no qual conseguiu uma bolsa de estudos, que Duília encontrou um corpo docente que a incentivasse nas áreas de ciências e matemática.

Aos 15 anos, uma de suas paixões era a sonda espacial Pioneer 11, e tinha grande iração pelo trabalho do astrônomo brasileiro Ronald Mourão. Foi nesta época que percebeu que queria ser como o cientista Carl Sagan, e, para isso, precisava se formar em astronomia.

Ao contar para o pais sua decisão, ouviu que ia “morrer de fome”. O pai de Duília não concluiu o ensino fundamental e a mãe havia largado a profissão de professora primária para cuidar dos três filhos.

Apesar de acharem que a profissão escolhida pela filha não tinha futuro, a mãe de Duília ajudou a moça a conseguir uma bolsa de estudos em um cursinho pré-vestibular.

E, para confirmar se era mesmo esse o desejo da filha, levou a jovem ao Observatório do Valongo, sede do curso de graduação em astronomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no centro da cidade.

Duília tem na mãe a principal motivadora para a sua empreitada. Era ela que motivava os estudos das filhas e sua independência intelectual e financeira de qualquer parceiro.

Com esse respaldo, Duília se formou em astronomia pela UFRJ, fez mestrado no Instituto de Pesquisas Espaciais, em São José dos Campos (SP) e doutorado na Universidade de São Paulo (USP), na mesma área.

Apesar de ter tido apenas cinco colegas mulheres em uma turma com mais de 20 alunos ao longo da graduação, Duília só entendeu a escassez de mulheres na astronomia ao sair do país há 20 anos, quando se viu em meio a centenas de homens num refeitório do Observatório do Chile.

Hoje, observa mais mulheres, ainda jovens, no espaço acadêmico da astronomia e nas áreas de pesquisa. Contudo, conhece muitos relatos de estudantes sobre assédio nos cursos de física e engenharia, apesar de aos poucos as empresas dessas áreas estarem oferecendo mais treinamentos para evitar preconceito e violência de gênero. Na Nasa, por exemplo, há políticas claras contra assédio.

Buscando incentivar mais mulheres na área, Duília criou há 5 anos o Projeto Mulher das Estrelas, com o objetivo de incentivar o interesse de crianças pela ciência.

Além disso, Duília vem liderando o processo de digitalização da Biblioteca Oliveira Lima, o maior acervo de obras brasileiras fora do país, na Universidade Católica da América em Washington, DC, nos Estados Unidos, que foi doado à universidade em 1924 com o objetivo de disseminar a cultura luso-brasileira no exterior.

As obras pertenciam ao historiador e jornalista Manoel de Oliveira Lima (1867-1928), um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, e de sua mulher, Flora de Oliveira Lima.

Para a reabertura da biblioteca, Duília conseguiu o patrocínio de US$ 500 mil, algo em torno de R$ 2,7 milhões. Com o valor, conseguiu chamar mais mulheres para atuar no projeto, como a brasileira Livia Lopes, para comandar o Centro de Estudos Latino-Americanos e Ibéricos criado pela universidade em 2020.

A meta é conseguir digitalizar ao menos 10% do acervo até o final de 2021, mas ainda falta corpo técnico.

Além disso, ela colabora com o Goddard Space Flight Center (que gerencia as comunicações com os astronautas da Estação Espacial Internacional), especialista na análise de imagens do telescópio Hubble.

Neste trabalho, foi responsável pela descoberta da supernova – evento que marca o fim do ciclo de uma estrela – SN1997. Também esteve na equipe que identificou as chamadas “bolhas azuis”, aglomerados estrelares.

Em 2016, tornou-se a primeira mulher a atuar como professora titular do departamento de Física da Universidade Católica da América, criado na década de 1950. Em poucos meses, chegou ao cargo de vice-reitora na mesma instituição.

Fonte: UOL Universa