As mulheres doadoras são a chave para destravar mais doações?

Cultura de Doação
Compartilhar

Imagem: adobe stock

 

Por Luiza Serpa

Uma grande transferência de riqueza está em curso: cerca de US$ 35 trilhões devem ar para as mãos de mulheres nos próximos anos, somando-se à renda que já conquistaram pelo trabalho. A pergunta é: o que elas farão com esse patrimônio?

Como uma organização especializada em assessoria de filantropia para indivíduos, famílias e empresas, nós, do Instituto Phi, estamos otimistas de que uma parte significativa desse capital será destinada a causas sociais. Dados já mostram que mulheres são, em média, mais generosas do que homens — e mais propensas a alinhar suas doações aos seus valores. Além disso, um dado importante: mulheres de todas as classes de renda vêm se tornando chefes de família, acumulando responsabilidades financeiras e sociais que as colocam no centro das decisões sobre o futuro de suas comunidades.

Pesquisa da Stanford Social Innovation Review, com consultoras especializadas, reforça esse cenário: o futuro da filantropia é feminino. Mulheres estão mais presentes em suas comunidades, combinam tempo, talento e recursos financeiros, participam de ações coletivas e comunicam-se melhor com ONGs. Preferem apoiar causas ligadas a mulheres, meninas, justiça racial e equidade.

No entanto, o capital filantrópico ainda está amplamente subutilizado, com a maioria dos ultra ricos doando menos de 1% de seus ativos. As mulheres podem ser a chave para destravar esse potencial — e não apenas por sua crescente influência patrimonial, mas por sua forma mais empática e estratégica de doar.

Um exemplo prático foi o sucesso do Puxa Conversa: Filantropia, jogo criado por Luiza Serpa, fundadora do Instituto Phi, em parceria com Maria Pia Bastos Tigre. A maioria das compras foi feita por mulheres que enxergaram a importância de levar o tema da filantropia para dentro de casa, entre amigos e escolas dos filhos. O “livro-caixinha”, com perguntas sobre empatia e responsabilidade social, reforça o papel feminino na construção de uma sociedade mais justa.

Apesar de seu crescente poder econômico, muitas mulheres ainda são ignoradas como líderes e confundidas com seus cônjuges, especialmente no setor de gestão de patrimônio. Muitos consultores financeiros continuam dirigindo conversas aos maridos, ignorando o protagonismo feminino.

Para mudar esse cenário, é fundamental:

  • Levar as mulheres a sério como decisoras;
  • Reconhecer gênero como parte essencial da diversidade;
  • Estimular redes de apoio como círculos de doação;
  • Unir razão e emoção na experiência de doar;
  • Empoderá-las para liderar legados sociais em momentos de mudança (como heranças ou divórcios);
  • Investir em pesquisa e serviços desenhados com foco nas mulheres.

A filantropia e a gestão de patrimônio do futuro pertencem a quem souber ouvir — e servir — as mulheres. Organizações que não se adaptarem correm o risco de perder não apenas relevância e clientes, mas também impacto real na transformação do mundo.

 

*A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor

 

Sobre a autora: Luiza Serpa é fundadora e diretora do Instituto Phi – Filantropia Inteligente  , única brasileira no Conselho Estratégico da rede Latimpacto, Responsible Leader da BMW Foundation, fellow da Skoll Foundation, integrante do Conselho da rede NEXUS Global, membro da Entrepreneur’s Organization (EO). Faz parte do comitê da Plataforma Conjunta e foi reconhecida como Empreendedora Social do Ano pela Folha em 2020. Luiza contou sua história num capítulo do livro “Mulheres do Terceiro Setor”, da Editora Leader, que aborda as histórias, cases, aprendizados e vivências de 18 empreendedoras sociais ao longo de sua carreira.

 


Compartilhar