Aos 73 anos, idoso se forma para realizar sonho de ‘plantar floresta’ no RS
Sonho de cultivar uma plantação sustentável de erva-mate se tornou possível após o idoso retomar os estudos e se formar em agronomia

Por: Mariana Lima
O sonho de Danilo Savariz, de 73 anos, não tem prazo de validade. Ele se formou recentemente na faculdade de agronomia, sendo o mais velho da turma da Universidade de o Fundo, no Rio Grande do Sul. A retomada dos estudos era um desejo antigo, que ele manteve em segundo plano na vida, mas que não conseguiu esquecer com o ar dos anos. Na verdade, o desejo foi só crescendo.
Seu Danilo sempre quis cultivar uma plantação de erva-mate, e a preocupação com o meio ambiente também é antiga. Na juventude, nos anos 60, ele ouviu pela primeira vez o termo “ecologia”. Junto com essa nova palavra, uma porção de outras também surgia. E não era preciso esperar os cientistas explicarem as mudanças, especialmente aquelas relacionadas ao meio ambiente. Seu Danilo via esse novo mundo na prática.
Nascido em uma família pobre com 9 irmãos entre Catuípe e Santo Ângelo, Danilo ouvia por um radinho de pilha o lançamento da nave Apollo até a Lua, transmitido pela BBC de Londres. A locução o deixava maravilhado com as invenções que existiam por aí, criando o fascínio pelas máquinas. Estudou mecânica e foi selecionado para receber uma bolsa de estudos para se formar engenheiro mecânico.
Na época, o estado carecia de mão de obra qualificada para trabalhar nas grandes indústrias que ali se instalavam. Durante 35 anos, seu Danilo trabalhou como engenheiro mecânico na companhia estadual de energia elétrica e por mais 20 deu aulas de mecânica.
Com o tempo, notou que as grandes máquinas chegavam não só na Lua, mas na zona rural onde cresceu. As grandes plantações de soja e milho substituíram as plantações artesanais do ado. A terra saiu de pequenas famílias para as mãos de poucos donos. Os jovens foram estudar na capital e em grandes cidades gaúchas.
Em 1979, seu Danilo cursou um ano de agronomia, mas trancou para trabalhar. Na cabeça, mantinha o sonho. Quando o pai ainda era vivo, vendeu um carro para comprar hectares em Erechim. Com a carreira como engenheiro, Danilo formou os irmãos mais novos no colégio e a filha como arquiteta. Quando se aposentou e a família já estava encaminhada, resolveu tirar aquele antigo sonho do esquecimento.
Dentro e fora da sala de aula, seu Danilo era sensação. Quando partia para trabalhos de campo com os colegas havia uma leve apreensão sobre sua capacidade de aprender, mas Seu Danilo se manteve firme. Os professores insistiram e os colegas o chamavam para tomar uma cerveja depois (ou antes) das aulas.
Se a idade não impediu seu Danilo, nem a pandemia iria fazer isso. No estágio, com máscara e distanciamento social, o idoso estudou o plantio de soja em uma fazenda em Erechim, e lá também foi o estagiário mais velho nas imediações. A partir daí começou a elaborar o TCC, o aguardado trabalho de conclusão de curso.
No seu projeto final, seu Danilo analisou as características biológicas e cultivo da erva-mate. Em seu terreno em Erechim, aplicou a técnica da agrofloresta. Nesse tipo de plantio, o objetivo é criar uma floresta de verdade para extrair frutos, legumes, raízes e até mesmo madeira de forma sustentável.
A colheita da erva-mate é feita de maneira manual, o que diminui a atração de grandes fazendeiros. Mas seu Danilo não pretende ser um grande fazendeiro. Ele deseja apenas que os hectares recebam mais pássaros, insetos, árvores e fortaleçam os rios e melhorem o ar da região.
Apesar da cerimônia de formatura ter sido cancelada, a faculdade o chamou para receber o diploma presencialmente. Agora, os planos são para a pós-graduação.
Fonte: ECOA | UOL