Analfabetismo sociotransformacional: você pode erradicar
Cultura de Doação
Quando o assunto é letramento da nossa população, o Censo Demográfico 2022 Alfabetização é uma das referências para apresentar índices e demonstrar resultados, e existe desde 1872.
Segundo o mapeamento, em 1940, apenas 44% da população brasileira com 15 anos ou mais era alfabetizada. Em 2010, este índice subiu para 90,4%; em 2022, subiu para 93%. Quanto às regiões do país, apesar do crescimento, a menor taxa está na região Nordeste. Considerando a questão racial, as taxas de analfabetismo de pretos, cerca de 10,1%, e pardos, na média 8,8%, são mais do dobro da taxa dos brancos, com 4,3%; e para os indígenas, chega a quadruplicar, alcançando 16,1%.
Em resumo, considerando ler e escrever um bilhete simples, com base em 163 milhões de pessoas de 15 anos ou mais de idade: 151,5 milhões sabiam ler e escrever um bilhete simples e 11,4 milhões não sabiam.
Podemos nos indignar com os dados, podemos celebrar os resultados, podemos tentar estratégias para melhorar estes indicadores, mas ao menos temos referências, estatísticas, norteadores, como o portal do INEP, que traz diversos indicadores como o ENAD, o ENEN, o SAEB, o Encceja, o PISA.
O fato é que saber ler e escrever é inegavelmente estratégico para a inserção cidadã na participação econômica e na geração de renda, na construção da dignidade e na autoestima, na conquista e manutenção do bem-estar físico, financeiro, mental, espiritual e, em especial, na perspectiva de futuro. E zerar o analfabetismo certamente será um grande trunfo.
Mas, será que ensinar a ler e escrever será o suficiente para as pessoas aprenderem a ser cidadãs? Quando o assunto é ler as necessidades das pessoas ao nosso redor e escrever uma solução que possa mudar a realidade de toda a comunidade, como medir o nosso índice de letramento humano e humanitário? Será que estamos ensinando e praticando as competências sociotransformacionais, que despertam a consciência social para a prática de uma convivência mais equânime, colaborativa e cidadã, em uma sociedade com menos desigualdades e mais distribuição de os, e que estimulam a ação, para além da percepção, a reclamação e da indignação?
A taxa de alfabetização sociotransformacional é pouco mencionada e mapeada, mas é igualmente relevante para aprimorar as relações humanas e transformar a realidade pensando em um cenário com cada vez menos polarização, menos violência e menos discriminação, entre tantas outras mazelas relacionais que impedem nosso livre ir e vir, que atrapalham o nosso pensar e, inclusive, impossibilitam o nosso sonhar.
Os dados da CAF, com o World Giving Index, a pesquisa Doação Brasil, entre outros modelos, são localizadores para a questão das doações. No universo corporativo, selos de certificação para questões de governança, compliance, sustentabilidade e responsabilidade social, são validadores de conformidade negocial. E quem é que mensura o quanto as pessoas colocam a gentileza, a generosidade, a solidariedade, a sustentabilidade, a diversidade, o respeito e a cidadania em prática?
O chamado “analfabetismo sociotransformacional” não escolhe idade, nem raça, nem crença. Pode estar nas classes mais abastadas e nas mais modestas, pois não está associada a poder de compra e sim a consciência social. Pode ser diagnosticado em crianças, em adolescentes, na idade adulta assim como em idosos, pois não se condiciona a um letramento acadêmico, e sim a um letramento de atitude, de conduta. Não está associado a região do país tampouco a determinadas profissões, pois acomete da sala sofisticada da empresa premiada por sua performance internacional ao vendedor ambulante dos cantinhos mais inóspitos das quebradas. Mais que uma condição econômica, é uma patologia estrutural formativa, de cura complexa, mas não impossível de ser resolvida.
A recomendação é começar na infância ou o quanto antes. Boas intenções até ajudam, mas não mudam nada; são as boas realizações que fazem as coisas acontecerem. Aos interessados neste letramento, a primeira plataforma brasileira de Educação para Gentileza e Generosidade é uma boa referência e disponibiliza, gratuitamente e para toda a população, metodologias, planos de aula, prêmios, cursos de formação, dinâmicas de desenvolvimento humano, estudos, testes e pesquisas, entre outras soluções, com foco nas competências sociotransformacionais — fundamentais para melhorar as relações entre nós, com o próximo e com o planeta.
Podemos ser a mudança que queremos ver no mundo, não é por falta de materiais qualificados e bons exemplos. Basta investir tempo e energia; querer e estar disposto a aprender e colocar em prática. Podemos, juntos, ler e escrever uma nova história poderosa, inspiradora e sociotransformadora para o nosso Brasil.
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*A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor.