Além da lenda urbana: exposição conta a história de Dona Yayá
Exposição do Centro de Preservação Cultural conta a história de Dona Yayá. Parte da elite paulistana do século 20, ela ficou órfã ainda criança, viveu sozinha em sua mansão, e aos 31 anos, foi considerada ‘fora de suas faculdades mentais’

O casarão da Rua Major Diogo, 353, no Bixiga, guarda a história de Sebastiana de Mello Freire, a Dona Yayá, que virou lenda urbana e parte de roteiro de lugares mal-assombrados na cidade de São Paulo. Mas a história de Dona Yayá vai muito além de histórias de fantasmas, e mostra a luta de uma mulher sozinha contra uma doença mental.
Para entender quem foi essa personagem, sua relação com a cidade e com a sociedade paulistana do século 20, o Centro de Preservação Cultural da Universidade de São Paulo inaugura a exposição “Yayá – cotidiano, feminismo, doença, riqueza” no dia 18 de maio, como parte da programação da 20ª Semana de Museus, promovida pelo Instituto Brasileiro de Museus. Essa data é duplamente importante, pois comemora o Dia Nacional Internacional dos Museus e também o Dia da Luta Antimanicomial no Brasil.
Nascida em 21 de janeiro de 1887, de família da elite paulistana, Yayá perdeu duas irmãs ainda criança e os pais aos 13 anos. Cinco anos depois, seu irmão mais velho cometeu suicídio. Assim, ela ficou sozinha apenas com os empregados e o isolamento não fez bem à órfã.
Já aos 31 anos, Yayá perdeu o controle sobre a própria vida ao ser considerada fora de suas faculdades mentais. Os laudos médicos atestaram sua condição de paciente psiquiátrica e a necessidade de cuidados especiais para tratamento. Ela foi considerada incapaz de istrar sua própria vida e seus bens, recebendo interdição judicial. Essa história, amplamente questionada pelo jornal sensacionalista ‘O Parafuso’, comoveu a sociedade paulistana.
Seu sofrimento, durante anos no casarão, fez surgir boatos sobra a casa que virou uma espécie de lenda urbana na cidade, ofuscando sua história. O imóvel foi tombado pelo Estado de São Paulo em 1998, e pelo Município, em 2002. Desde 2004, é sede do Centro de Preservação Cultural da USP, órgão que oferece ao público uma série de atividades no âmbito da cultura e extensão universitária que estreitam as relações da Universidade com o bairro do Bixiga e com a sociedade em geral.
A exposição “Yayá – cotidiano, feminismo, doença, riqueza” tem ainda uma versão digital, lançada em 2021, que pode ser vista no site. A realização é do Centro de Preservação Cultural da USP, com a curadoria das professoras Martha Marandino (Faculdade de Educação da USP) e Simone Scifoni (Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP).
A abertura da exposição acontece hoje (18/05), às 18h, na Casa de Dona Yayá (Rua Major Diogo, 353 – São Paulo). A entrada é gratuita e a visitação pode ser feita de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h.