A neutralidade nas eleições

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Impressionante como o atual cenário brasileiro tem sido uma fonte inesgotável de inspiração para escrever.

Comecei com um artigo sobre o que motiva alguns amigos e familiares apoiarem um candidato como Jair Bolsonaro. Esse foi um campo de descoberta assustador, pois cheguei à conclusão que muitos deles são tomados por valores cruéis e que validam toda uma ideologia fascista.

Porém, gostaria de destacar que muitas pessoas não apoiam Bolsonaro, mas por outro lado se definem como pessoas apartidárias ou neutras e que jamais votariam em nenhum candidato.

Ingenuidade? Ignorância?  Acho que isso só é um indicador de que estamos longe do que realmente significa a construção sólida de uma formação política da grande maioria da população.  O que é pior: estudantes e doutores da academia também fazem parte de universo de pessoas alheias, e que infelizmente pensam que estão protegidas em suas pequenas bolhas de “conhecimento”.

Entretanto, tenho verificado que tanto a grande mídia quanto as demais tentam ar a ideia de que são apartidárias e que o único compromisso é com o cidadão. Na verdade, estas estão claramente compromissadas em manter e sustentar a hegemonia dominante da burguesia, senão de grupos econômicos e instituições a serviço do capital.

Recentemente recebi um telefonema de um jornal da grande mídia, oferecendo exemplares gratuitos. Agradeci e disse que não tinha identificação com a ideologia de tal jornal. Logo, aquela voz masculina falou: “Não! Somos uma mídia apartidária e o nosso compromisso é com a verdade”. Respondi: “Não tenho interesse em mídias que fingem ser apartidárias.”

Falácia! Pois não existe nem ser humano e nem mídia apartidária em um sistema do capital calcado na luta de classes e de narrativas diversas. Todos tomam partidos, não existe neutralidade, pois sempre escolhemos um lado.

Lembrei de um filme dos anos 70, “Redes de Intrigas”, dirigido por Sidney Lumet. Extremante atual para compreendermos os bastidores e os interesses da mídia no grande capital, como também verificar que as narrativas são permeadas de estratégias que transitam entre o sensacionalismo e manipulação da vida pública e privada.

Enfim, termino e dedico esse artigo aos amigos e a mídia que se diz apartidária a frase do grande Dante Alighieri: “No inferno, os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempo de crise”.

Márcia Moussallem

Assistente Social e Socióloga. Mestra e Doutora em Serviço Social (PUC/SP); MBA em Gestão para Organizações do Terceiro Setor. Professora Universitária. Publicou seis livros. Colunista do Observatório do Terceiro Setor.

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