A importância do 8M para o debate de gênero

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Por Mirian Mazzardo

Mês de março, internacionalmente conhecido como o mês da mulher, mês de luta e resistência. Existem diversas narrativas para explicar o Dia da Internacional da Mulher (08/03), mesmo com várias histórias diferentes, todas trazem uma coisa em comum: o protagonismo feminino diante das injustiças sociais e da violência de gênero.

Ao longo da história os papeis de gênero foram se modificando e se afirmando. Em muitos desses papeis, a mulher – principalmente a mulher branca – foi colocada como o ser indefeso e submisso ao homem, seja o pai, irmão, cônjuge, etc. Essa visão da mulher como propriedade é fruto da cultura patriarcal e machista que permeia a sociedade há tempos. Mesmo com diversas mudanças na estrutura social, as mulheres ainda am por muitos entraves para conseguir se legitimar na sociedade.

Sem se ater profundamente ao recorte de raça (já que existe, além da violência de gênero, o racismo contra as mulheres negras), depois de muitas reinvindicações e direitos conquistados ao longo do tempo, as mulheres ainda recebem uma tratativa subalterna, seja no mercado de trabalho ou nos cuidados com a casa. Ainda somos nós que recebemos menos que os homens, desempenhando a mesma função, ainda somos nós que, em sua maioria, exercem dupla, tripla jornada de trabalho, cuidando da casa, dos filhos e do emprego formal, ainda são, em maioria, mulheres que sofrem violência doméstica, física, sexual, patrimonial e/ou psicológica.

Todo esse histórico patriarcal reflete nas relações sociais e nas discussões de gênero que temos hoje. Por isso, questionamos: o que o 8 de março agrega nas discussões de gênero? O 8M tem grande importância para os debates, já que dão abertura e visibilidade às pautas e vivências de mulheres, em diversos âmbitos da vida. As mobilizações nacionais e internacionais que existem só reforçam que, por mais que tenham acontecido mudanças e que tenhamos conquistado direitos ao longo do tempo, tem muita coisa que precisa mudar.

É importante pensar que nenhum direito que existe hoje, foi dado de bom grado pelos governantes. Todos os nossos direitos foram conquistados e não

são perenes, por isso é importante que existam lutas, causas e movimentos sociais que busquem a permanência desses direitos e que garantam que as desigualdades sejam atenuadas e, quando possível, erradicadas.

Ainda vivemos e reproduzimos a narrativa do homem como herói. Quantas mulheres tiveram o seu “não” respeitado ao longo da vida? Quantas mulheres tiveram que afirmar (ou mentir) que namoravam para que outro homem as deixasse em paz em uma balada, em um barzinho? Até quando vamos ler reportagens em que “duas mulheres viajavam sozinhas e foram surpreendias por bandidos”? Quantas mulheres precisam estar juntas para que não estejam só? Quantos relacionamentos lésbicos foram questionados em quem é o “homem” da relação? Ainda existe a ideia de que é necessário a existência da figura masculina para validar a vivência e existência nas relações sociais.

Ter uma data de visibilidade para luta das mulheres é importante para que a história não se perca com o tempo, mas, além disso, é importante reconhecer a luta diária que cada mulher enfrenta na sociedade. É importante que existam as discussões de gênero para que seja possível buscar alternativas e mudanças efetivas nas relações sociais que colocam as mulheres como objetos e como seres inferiores.

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Sobre a autora:

Mirian Mazzardo, 23 anos, moradora da periferia de Curitiba. Graduada em Ciências Sociais (PUR), professora de Sociologia e Fundamentos do Trabalho na rede pública estadual do Paraná e professora voluntária do Cursinho Popular Alicerce 23. Atua na luta pela democratização do ensino, educação popular, combate às desigualdades sociais e na luta pelo direito à moradia, em Curitiba.


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