A história de um Brasil que sangra

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Um povo que nega e não reconhece as atrocidades e crimes cometidos pelo Estado e seus cúmplices está fadado a eterna alienação em um abismo de ignorância e cegueira. Nega e foge do ado e comete os mesmos erros no presente.

Essa é uma parte cruel da história do Brasil tropical: massacres, torturas e assassinatos de milhares de homens e mulheres que resistiram com coragem e disseram não aos poderosos. Exemplos são muitos, desde Canudos, Contestado, entre outros.

Porém cabe um destaque ao golpe militar e civil de 1964, que no dia 31 de março de 2019 fez 55 anos. Nesse ano, com o atual “desgoverno” de Jair Bolsonaro, é enaltecido e comemorado. E o pior: validado e apoiado pelos seus eleitores ignorantes, frios e cruéis.

Acredito que essa data triste da nossa história jamais deveria ser mencionada como comemoração, mas, como estamos vivendo e continuamos a viver as diversas formas de violência no Brasil, isso só nos mostra que nada mudou nesse País “verde e amarelo”.

No meio desse turbilhão, destaco duas experiências que fizeram meu coração chorar. A primeira foi o filme “Pastor Cláudio”, que relata o encontro entre Eduardo os, psicólogo e ativista de direitos humanos e Cláudio Guerra, ex-delegado e atualmente pastor evangélico, que foi responsável por ass e incinerar diversos homens e mulheres que fizeram oposição ao regime militar. As respostas do Pastor são frias e sem o menor arrependimento. O que me fez lembrar o livro a “A banalidade do mal”, de Hannah Arendt.

A outra experiência foi a conversa com um conhecido. Ao falar a ele sobre o absurdo da comemoração desse dia por parte do atual governo, o mesmo destacou que a revolução Russa jamais deveria ser comemorada em 2017, devido as mortes que ocorreram. Ele tenta justificar ou comparar ingenuamente com o golpe de 64 no Brasil.

Bem, pensei, refleti e cheguei a conclusão que a ausência de conhecimento da história do Brasil e do mundo está presente nos “letrados”. O pior é que eles são cruéis e insensíveis mas, com muita hipocrisia, vestem a roupa da justiça, da moralidade, dos “homens de bem e servos de Deus”.

Descrevo essas duas experiências porque são similares: homens que nada sentem e apenas obedecem às ordens, seja do Estado ou da Igreja, que vende o “Deus engarrafado”.

É nesse emaranhado de sentimentos que me abatem que termino esse artigo com uma música do eterno Gonzaguinha: “São tantas lutas inglórias, são histórias que a história qualquer dia contará (…) de obscuros personagens (…) agens de coragem que são sementes espalhadas nesse chão dos humilhados, ofendidos, explorados e oprimidos que tentaram encontrar solução. São cruzes, sem nomes, sem corpos, sem datas. Memória de um tempo onde a lutar por seus direitos é um defeito que mata. Mas, VAMOS À LUTA.”

Márcia Moussallem

Assistente Social e Socióloga. Mestra e Doutora em Serviço Social (PUC/SP); MBA em Gestão para Organizações do Terceiro Setor. Professora Universitária. Publicou seis livros. Colunista do Observatório do Terceiro Setor.

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