A autoestima do jovem e sua influência na empregabilidade

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Foto: Adobe Stock

Por Wandreza Bayona

A autoestima é a maneira como enxergamos e compreendemos o nosso valor no mundo, com base em alguns fatores, que podem ser desenvolvidos e aprimorados ao longo da vida, sendo eles: físicos, estéticos, intelectuais, entre outros. Quando se trata da autoestima dos jovens, que ainda estão em fase de desenvolvimento, notamos que há uma insegurança natural e diversas incertezas em relação a esses aspectos, sobretudo em jovens que vivem em situação de vulnerabilidade.

De acordo com os dados divulgados em agosto pelo Panorama da Saúde Mental, criada pelo Instituto Cactus, em parceria com a AtlasIntel, o Brasil lidera ranking de jovens de 16 e 24 anos que sofrem com questões relativas à autoestima, seja em relação a sua aparência, ou sobre a autopercepção de sua inteligência.

Além disso, quando falamos dos jovens mais vulneráveis, que vivem nas periferias de todo Brasil, sabemos que grande parcela deles aram por situações adversas ao longo de sua infância e início da juventude, como ausência materna e/ou paterna, restrições em relação a uma alimentação e educação de qualidade, envolvimento em pequenos delitos e situações de exposição a violência.

Dentro deste contexto, quando é chegada a hora de serem inseridos no mercado de trabalho, é possível notar o reflexo da baixa autoestima deste grupo que, por muitas vezes, não se sentem capazes ou em condições sociais de buscarem oportunidades de capacitação, que os possibilitem alcançar vagas de trabalho mais atraentes. Desta forma, a grande maioria adere aos trabalhos “braçais” e à informalidade, onde não possuem direitos trabalhistas, plano de carreira e benefícios em relação a sua saúde, educação e bem-estar. Mas, que por demandarem menos aptidão intelectual, capacitação e serem mais próximos de sua realidade, se tornam sua primeira e, muitas vezes, a única opção.

São essas portas que permitem uma inserção mais rápida no mercado e garantia de um sustento imediato, mas que resultam, a médio e longo prazo, na instabilidade profissional e insegurança financeira, o que afeta diretamente sua saúde mental e, novamente, a sua autoestima e como eles enxergam o seu valor no mundo. Criando um ciclo vicioso, fruto da desigualdade e da falta de conhecimento e desenvolvimento de seus talentos. E como todo padrão de comportamento, endossado por questões sociais e culturais, este também tem sido difícil romper, mas não impossível.

Mas a missão de ultraar essa barreira não é de interesse apenas desses jovens, mas sobretudo das empresas e organizações, pois é em meio a essa juventude mais carente que podem estar os grandes talentos que, uma vez que sejam bem desenvolvidos, serão profissionais diferenciados e de alta performance.

E o método mais assertivo e eficaz para isso, é a capacitação integral deste jovem, que une o desenvolvimento emocional, social e técnico, de modo que eles absorvam conhecimentos tecnológicos e de ferramentas essenciais no mercado de trabalho atual e que, em paralelo, os ajudem a descobrir os seus talentos naturais, compreendendo e aperfeiçoando as suas soft skills, como senso de liderança, capacidade de resolver de conflitos, boa gestão do tempo, etc. Este formato integrado permite que eles se enxerguem de uma outra maneira, com mais autoconfiança e autonomia para iniciarem suas jornadas. E, arrisco dizer que só desta maneira, é possível inseri-los no mercado de trabalho de maneira produtiva e um pouco menos desigual aos mais favorecidos, onde a concorrência pelas oportunidades mais significativas sejam mais equitativas.

Tendo isso em vista, investir em capacitação dos talentos em potencial e absorvê-los no mercado, não deve ser visto apenas como uma ação social feita por empresas, mas como um investimento inteligente que, a longo prazo, pode resultar em resultados sólidos. Como um time de futebol que investe em suas categorias de base e, anos depois, tem o maior craque do mundo defendendo a sua equipe, tornando-a mais competitiva e ajudando-a colher frutos extraordinários. É um ganha-ganha e já vimos isso acontecer em nosso país algumas vezes.

Só através dessa mentalidade e união de forças, caminhando rumo à educação, capacitação integral e a empregabilidade, teremos uma juventude não só mais bem sucedida profissional e financeiramente, mas sendo também mais saudável física e emocionalmente, com mais autoestima e autonomia para enfrentar as adversidades pessoais, profissionais e tomar as decisões que vão mudar e transformar o mundo e a sociedade em que todos nós vivemos, pois eles são o futuro.

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A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor.

*Wandreza Bayona é diretora executiva do Instituto Ser+, que desde 2014 atua na criação e desenvolvimento de oportunidades para a juventude, formada em Serviço Social pelo Centro Universitário FMU, com especialização em responsabilidade social corporativa e terceiro setor pela universidade FIA (Fundação Instituto de istração) e LDR pela Saint Paul. Possui mais de 20 anos de experiência na área de Responsabilidade Social Corporativa, com foco em desenvolvimento e implantação de programas de RSC.


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