Educadoras usam cultura afro para ensinar inglês a mulheres negras

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Um coletivo de educadoras negras criou a iniciativa Odara English School para ensinar a língua inglesa com preços íveis em São Paulo

Foto: Kelly Fournier (Unsplash)

Por: Mariana Lima

Ryane Leão é escritora, poeta e professora de línguas. Foi nas salas de aula de cursos de inglês que notou a falta de representatividade negra.

Em alguns casos, era a única professora negra, enquanto nos livros não havia nada sobre a história afro e os alunos negros eram minoria.

Assim, Ryane começou a desenvolver seu próprio material e inserir o feminismo negro nas aulas, o que acabou resultando em algumas demissões.

A ideia ainda estava firme na mente de Ryane e, ao lado de uma amiga, ela começou a ensinar inglês para outras mulheres negras a preços populares.

Na sala de casa, Ryane começou a dar aulas para um grupo de pouco mais de 30 alunas. As aulas em casa possibilitaram o surgimento da Odara English School, um coletivo de educadoras pretas que ensina a língua inglesa a partir da cultura afro para mulheres negras com preços íveis.

A escola tem pouco mais de quatro anos e está localizada no centro de São Paulo, tendo mais de 250 alunas.

Na Odara, a primeira aula é sobre os Panteras Negras. As alunas aprendem sobre sua trajetória e ideologia. Depois vão para a parte prática e criam cartazes baseados nos ensinamentos do partido.

O Império Ashanti, a Mitologia Yorubá e Abayomis também são temas das aulas. Na base bibliográfica, leem autores como Chimamanda Ngozi Adiche, Angela Davis, Nelson Mandela, Oprah Winfrey e outros escritores negros.

Com a pandemia, as aulas presenciais estão suspensas e vêm sendo realizadas no formato online. As professoras pontuam que muitas alunas se sentem culpadas por não conhecerem a literatura do curso, uma vez que existe uma intenção sistêmica para que as pessoas não saibam sobre esse tipo de conteúdo.

Na Odora, a gramática e o inglês são trabalhados com base em pautas comuns de seus cotidianos como ancestralidade, cabelo e negritude.

As aulas proporcionam às estudantes um avanço sociocultural, intelectual e, principalmente, ampliam suas visões, a partir de um processo educacional diferente, que não traz resquícios de um ensino colonizado e eurocêntrico.

O ensino proposto pela escola busca fortalecer essas mulheres pretas, fazendo com que elas encontrem sua autoestima e conquistem seus objetivos, permitindo o compartilhamentos de suas dores, alegrias e o apoio entre o grupo.

A mensalidade do curso é ível, mas, como toda ibilidade é relativa, elas oferecem algumas bolsas de estudo.

Fonte: UOL ECOA