Por lutar contra a fome no Brasil, ele foi punido pela Ditadura Militar

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Josué de Castro escreveu obras clássicas sobre o quadro trágico da fome no Brasil e no mundo

Josué Apolônio de Castro, mais conhecido como Josué de Castro, foi um influente médico, nutrólogo, professor, geógrafo, cientista social, político, escritor e ativista brasileiro do combate à fome.

Josué de Castro nasceu no dia 5 de setembro de 1908, no Recife (PE). Aos 20 anos, formou-se na Faculdade de Medicina da Universidade do Rio de Janeiro, atual UFRJ.

Apesar do interesse inicial pela psiquiatria, resolveu fazer nutrição e abriu sua clínica no Recife. Na mesma época, foi contratado por uma fábrica para examinar trabalhadores com problemas de saúde indefinidos e diagnosticou: “sei o que meus clientes têm. Mas não posso curá-los porque sou médico e não diretor daqui. A doença desta gente é fome”. Logo foi demitido da fábrica. Vislumbrou então a dimensão social da doença, ocultada por preconceitos raciais e climáticos.

A partir de 1940, participou de todos os projetos governamentais ligados à alimentação, coordenando a implantação dos primeiros restaurantes populares, dirigindo as pesquisas do Instituto de Tecnologia Alimentar e colaborando para a execução de várias políticas públicas, como a educação alimentar. Sob sua direção foi lançado o periódico ‘Arquivos Brasileiros de Nutrologia’.

O ano de 1946 foi marcado pela publicação de ‘Geografia da fome‘. Obra clássica da ciência brasileira, o livro buscou tirar da obscuridade o quadro trágico da fome no país. Enfatizou as origens socioeconômicas da tragédia e denunciou as explicações deterministas que naturalizavam este quadro.

No mesmo ano, foi o fundador e primeiro diretor do Instituto de Nutrição da Universidade do Brasil. ‘Geopolítica da fome‘, livro publicado em 1951, concebido como uma extensão da ‘Geografia da fome’, tornou-se um marco histórico e político nas questões de alimentação e população. Os princípios ecológicos e geográficos foram desta vez utilizados na escala da fome mundial.

Respeitado internacionalmente, Josué de Castro foi eleito por representantes de 70 países Presidente do Conselho Executivo da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), cargo que exerceu entre 1952 e 1956. Exerceu dois mandatos como deputado federal eleito pelo estado de Pernambuco. Entre diversos projetos ligados a questões agrárias, educacionais, culturais e econômicas, apresentou o de regulamentação da profissão de nutricionista, que dispõe sobre o ensino superior de Nutrição. Em 1963, tornou-se embaixador brasileiro junto à sede europeia da Organização das Nações Unidas, em Genebra.

Com o Golpe de Estado de 1964, foi destituído do cargo de embaixador-chefe em Genebra e seus direitos políticos foram suspensos pela Ditadura Militar no Brasil em seu primeiro Ato Institucional.

No exílio, sentiu muita falta do Brasil. Impedido de voltar ao país, aceitou asilar-se na cidade de Paris, onde procurou dar prosseguimento a suas atividades.

Fundou e dirigiu o Centro Internacional para o Desenvolvimento, além de ter presidido a Associação Médica Internacional para o Estudo das Condições de Vida e Saúde. Foi designado professor estrangeiro associado ao Centro Universitário Experimental de Vincennes (Universidade de Paris VIII), onde trabalhou até sua morte.

Faleceu em Paris, em 24 de setembro de 1974. Seu corpo foi enterrado no cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro.

Josué de Castro mostrou ao mundo a dor da fome no Brasil, que infelizmente até hoje causa o sofrimento de milhões de brasileiros. O relatório ‘O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2018′, da FAO, mostrou que 5,2 milhões de pessoas am fome no Brasil.


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