Ativista é quem faz

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Eu conheci a Dona Carmen andando na Paulista. Eu vi que ela estava catando umas coisinhas num canteiro ali em frente ao Trianon, fiquei curioso e fui perguntar.

Ela me estendeu a mão cheia de coquinhos e já foi me mostrando com a outra, quantos ainda estavam lá, pra serem colhidos. Me contou que tinha esse hábito. Andava pela avenida catando e plantando coquinhos. “Tem muito canteiro sem plantinha nenhuma” me disse com uma voz levemente trêmula.

Eu não sei quantos anos tem a Dona Carmen. Depois dos 80 parece que todo mundo tem os mesmos “80 e tantos” . O que muda é a força. Pelo menos é assim que a gente se refere. “Fulano tem 80 e tantos e tá forte como um leão.” Fulana tem 80 e tantos e tá fraquinha, coitada”

Dona Carmen tem 80 tantos e tá forte. Forte como uma leoa, como um Chico Mendes. Como um José Cláudio.

Forte como uma ambientalista no país que mais se mata ativistas ambientais no mundo.

– Por que a senhora faz isso dona Carmen?

Pra deixar  a nossa avenida mais bonita. – respondeu. E quase sem se despedir (só um leve maneio de cabeça) virou-se e continuou caminhando.

“Nossa avenida.”   A Dona Carmen falou “nossa” avenida. Fiquei pensando como a minha pergunta tinha sido boba. Ou o quanto eu não me sinto  pertencente. Por um instante me senti vazio.

Que avenidas são essas que eu cruzo em busca de algum destino? Que ruas são essas que eu costumo ignorar na pressa  por chegar em um efêmero “lá”.

Essas ruas são as “nossas”  ruas, da nossa cidade, do nosso país. Do nosso planeta.

Enquanto penso, a Dona Carmen vai caminhando.  Seguindo seu caminho de colheita e plantio.

Ela não faz parte de nenhum grupo de ativistas. Como Chico Mendes, como José Cláudio, ela sente-se, antes, parte de um todo muito maior. E como eles, e tantos outros, apenas faz a sua parte.

Agora, quando alguém me falar que não sabe o que fazer pra melhorar o mundo, eu já sei o que responder:

–  Meu amigo, vá plantar coquinhos!

Claudio Thebas

É palhaço, educador, Fundador do Laboratório de Escuta e Convivência e, antes de tudo, muito insistente. Escreve crônicas sobre pessoas e instituições que insistem em remar contra a maré. Que insistem em acreditar num mundo mais humano.


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