Campanha de inverno acolhe moradores de rua no frio paulistano
Direitos HumanosA SP Invisível lançou a campanha Inverno Invisível 2025; para o CEO da organização, André Soler, mudanças climáticas já impactam a vida da população de rua: “as variações bruscas de temperatura — como ondas de calor intensas durante o dia seguidas de quedas acentuadas à noite — tornam a vida nas ruas ainda mais difícil e perigosa”

Por Lucas Neves
Com a aproximação do inverno, as temperaturas já estão despencando em diversas regiões brasileiras. A chegada do frio torna a vulnerabilidade das pessoas em situação de rua ainda mais evidente. Nesse sentido, determinadas organizações da sociedade civil (OSCs) amparam a população de rua, como a SP Invisível.
Criada em 2014, a SP Invisível atua em prol dos moradores de rua a partir de 3 pilares: conscientização sobre a realidade dessas pessoas, assistencialismo — no combate imediato a problemas como fome e o frio — e assistência social. Para o inverno de 2025, a organização lançou a campanha com o tema “Dias quentes, noites frias”.
A ideia dessa edição é evidenciar um problema pouco visto, as noites perigosamente geladas que ocorrem mesmo em dias de temperaturas amenas. André Soler, CEO e fundador da SP Invisível, destaca que o objetivo da campanha é “mobilizar a sociedade para garantir que ninguém enfrente o frio extremo sem apoio e visibilidade”.
Campanha Inverno Invisível 2025
Com a arrecadação de fundos para a campanha Inverno Invisível, o trabalho da OSC não se limita à aquisição de roupas de inverno, atuando também na disponibilização de refeições quentes, água e kits de higiene. A entrega desses itens começou em maio e seguirá até o mês de agosto.
Nesta edição, a SP Invisível estima distribuir cerca de 36 mil itens para cerca de 4 mil pessoas em situação de vulnerabilidade nas ruas da cidade de São Paulo. “As pessoas podem colaborar de forma muito simples e direta. As doações para a campanha são feitas diretamente pelo site da SP Invisível, com valores íveis que fazem a diferença”, afirma Soler.
Doando R$ 50, é possível oferecer uma refeição quente + kit higiene; com R$ 100, uma refeição quente + um moletom novo da SP Invisível; e com R$ 140, garantir refeição quente + moletom novo da SP Invisível + kit higiene.
Fora a contribuição financeira, o CEO da SP Invisível aponta outras formas de colaborar com a campanha. “Toda ajuda na divulgação da campanha, engajamento nas redes e mobilização de empresas e comunidades é fundamental para ampliarmos o alcance dessa rede de cuidado”, ressalta Soler.
e o site da SP Invisível para saber mais sobre a campanha e para doar.

Impacto das mudanças climáticas na vida dos moradores de rua
É sabido que a ação humana, sobretudo com a queima de combustíveis fósseis, está impactando diretamente os padrões de temperatura e clima do planeta; essas mudanças climáticas afetam a vida das pessoas, principalmente as mais vulneráveis.
Segundo estudo lançado pela Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica, os desastres climáticos aumentaram 250% no Brasil, entre 2020 e 2023, em comparação com os registros dos anos 90. Além disso, em 2024, a temperatura média global ultraou, pela primeira vez, a marca de 1.5°C, em comparação aos níveis pré-industriais, sendo este um fator que pode tornar o clima ainda mais extremo, segundo cientistas.
Para Soler, a instabilidade e variações bruscas de temperaturas, efeito das mudanças climáticas, já estão impactando diretamente a vida dos moradores de rua. “Temos percebido um impacto crescente das mudanças climáticas sobre a população em situação de rua. As variações bruscas de temperatura — como ondas de calor intensas durante o dia seguidas de quedas acentuadas à noite — tornam a vida nas ruas ainda mais difícil e perigosa”, comenta.
Ele salienta que a maioria dessas pessoas não possuem o a roupas adequadas, abrigo ou atendimento médico. Sendo assim, a população de rua fica “extremamente vulnerável a problemas como desidratação e hipotermia”.
Aumento da população de rua em SP
São Paulo lidera o ranking nacional de cidades com maior população de rua. O município paulistano possuía cerca de 90 mil pessoas nessa situação em novembro de 2024, segundo levantamento Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua (OBPopRua), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A partir desses dados, que possuem base em informações do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, é possível perceber o aumento expressivo da população de rua em São Paulo nos últimos anos. Afinal, em 2018, a capital paulista tinha registro de cerca de 38 mil pessoas nessa situação de vulnerabilidade.
“Acredito que o aumento da população em situação de rua no Brasil está diretamente relacionado à crise econômica aprofundada pela pandemia, ao desemprego crescente e à ausência de políticas públicas efetivas de moradia e inclusão social” — André Soler, CEO e fundador da SP Invisível
Para falar dos motivos que levaram ao crescimento da população de rua, o fundador da SP Invisível também destaca a fragilização das redes de apoio familiar e comunitário, fora o aumento do custo de vida, especialmente em grandes centros urbanos, como São Paulo.
Dificuldades da SP Invisível com o aumento da população de rua
“Enquanto ONG, seguimos fazendo o possível para oferecer apoio emergencial e dignidade, mas é urgente investir em políticas de moradia popular, ampliação de centros de acolhimento dignos e adaptados às diferentes realidades — incluindo famílias, mulheres, pessoas LGBTQIA+ e usuários de substâncias; geração de renda e reinserção social”, alerta.
Ainda, Soler aborda o impacto do aumento da população de rua no trabalho da SP Invisível, tornando-o “ainda mais desafiador e urgente”. A cada ano, a organização enfrenta demandas maiores por roupas adequadas, refeições quentes e acolhimento.
No caso da campanha de inverno, Soler cita a captação de recursos, quantidade de doações e logística como os principais desafios enfrentados. “Também enfrentamos limitações operacionais, como equipe reduzida, oscilações de temperatura inesperadas e a dificuldade de atender perfis diversos com dignidade — incluindo idosos, mulheres, crianças e pessoas com deficiências”.
Para concluir, o CEO da SP Invisível comenta as necessidades de ampliar a estrutura de atendimento, logística de distribuição e capacidade de mobilização social. “Nosso trabalho, que sempre foi baseado em escuta ativa e no cuidado individualizado, precisa ser constantemente adaptado para alcançar mais pessoas sem perder a humanização, a qual é a essência da nossa atuação’.
Programa do Observatório discute situação dos moradores de rua
No dia 15 de maio, o Olhar da Cidadania recebeu um episódio falando sobre a situação dos moradores de rua. Nesse sentido, o apresentador e jornalista, Joel Scala, recebeu a socióloga, Fraya Frehse, professora associada de sociologia da cidade, do espaço e da vida cotidiana no Departamento de Sociologia da USP, além de membro do Centro de Síntese “USP Cidades Globais” do Instituto de Estudos Avançados, da universidade.