Educação e Esporte: pilares essenciais para a saúde mental dos jovens
ONGs em Ação
Por Joana Miraglia
Precisamos olhar para as questões de saúde mental em crianças, adolescentes e jovens. O Brasil tem enfrentado um aumento preocupante nas taxas de suicídio e autolesão. Entre 2011 e 2022, o número de suicídios entre crianças e adolescentes cresceu 6% ao ano, enquanto as notificações de autolesões na faixa etária de 10 a 24 anos evoluíram 29% ao ano no mesmo período, segundo a pesquisa do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz Bahia). Esses dados preocupantes mobilizam entidades públicas e privadas em busca de uma solução, mas também acendem um alerta entre os professores, que diariamente enfrentam desafios em sala de aula.
Solucionar esse problema requer o empenho de diferentes esferas da sociedade. Segundo o artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente, “é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”. Diante disso, é urgente criarmos estratégias no âmbito pedagógico e da saúde, para darmos conta das questões de saúde mental, que tem afetado diretamente a aprendizagem dos estudantes.
Nesse contexto, a escola desempenha um papel crucial na promoção da saúde mental e física dos jovens. Incentivando o esporte e as aulas de educação física, a escola pode potencializar ainda mais o desenvolvimento dos alunos e alunas, trazendo melhoras comportamentais e acadêmicas. A prática regular de exercícios físicos ajuda a reduzir significativamente sentimentos de tristeza e ansiedade, além de trazer os estudantes para o convívio social. Um estudo da Universidade de Vermont publicado no Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry mostrou que a atividade física reduziu em 23% a frequência de ideias e tentativas de suicídio entre os adolescentes.
Todavia, a solução não é tão simples. As escolas, especialmente as públicas, enfrentam desafios que dificultam a oferta de aulas de educação física com qualidade, como a falta de espaços adequados para a prática de exercícios. De acordo com o Censo Escolar da Educação Básica mais recente, 47% das escolas de ensino fundamental e médio, não possuem quadra poliesportiva. A escassez de materiais adequados além da falta de treinamento para os professores, que muitas vezes não estão preparados para lidar com casos e relatos de questões pessoais e/ou familiares dos alunos, também são fatores agravantes.
Encarar o problema de frente e enfrentá-lo com políticas públicas de educação, saúde e assistência social, é crucial para reverter essa situação e garantir os direitos básicos aos estudantes. Além disso, valorizar os professores e investir em uma boa infraestrutura nas escolas, são pontos essenciais para o sucesso dessa iniciativa.
É fundamental que exista um esforço em conjunto entre diferentes setores da sociedade, como citado no documento da UNESCO (2015), intitulado “Diretrizes em educação física de qualidade (EFQ) para gestores de políticas”. A entidade recomenda a formação de parcerias com ONGs e organizações comunitárias voltadas ao esporte. Essa colaboração pode ajudar a reduzir os custos para as escolas e, ao mesmo tempo, incentivar os jovens a se engajarem em atividades físicas e esportes extracurriculares.
O Instituto Superação: formação pelo esporte, organização social que tem como missão contribuir com a formação pessoal de crianças e adolescentes, desenvolvendo competências socioemocionais por meio da integração entre a educação e o esporte, é um ótimo exemplo de como a parceria entre escolas e entidades sem fins lucrativos pode funcionar e trazer resultados importantes para as redes públicas parcerias.
O Instituto Superação proporciona o o à prática esportiva saudável e positiva, promovendo, de maneira integrada, o desenvolvimento esportivo e socioemocional dos alunos. A prática esportiva no contexto da educação formal impacta positivamente a formação integral dos alunos e alunas. Os professores de Educação Física são peças fundamentais nessa atuação, pois são capazes de transformar o esporte em uma experiência verdadeiramente educativa.
Formar pessoas que fazem o seu melhor no esporte e na vida, é o lema do Instituto, que desenvolveu uma metodologia própria, o Método DNA Superação, que integra o desenvolvimento socioemocional ao esportivo. Em parceria com as secretarias de educação, o Instituto forma professores de Educação Física, para que possam oferecer uma experiência esportiva positiva e formativa aos seus alunos, desenvolvendo valores importantes para a vida. Durante os treinos, são promovidos valores como amor, humildade, disciplina, coragem, espírito de equipe e superação, motivando os alunos a darem o seu melhor.
Promover a prática de exercícios físicos dentro das escolas, é uma ação de baixo custo e alto impacto, que diminui a depressão e a ansiedade em 30%, além de aumentar os resultados acadêmicos em até 40%, segundo relatório da UNESCO de 2021. O reconhecimento do esporte e da educação física como elementos decisivos no processo de aprendizagem, pode trazer grandes avanços para o ensino público, melhorando a saúde mental e física dos alunos e reduzindo a defasagem nos conteúdos acadêmicos.
*
*A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor.
Sobre a autora: Joana Miraglia é Diretora Geral do Instituto Superação; é psicóloga formada pela PUC/SP, especialista em Psicologia do Esporte e Master Business Economics em Responsabilidade Social e Terceiro Setor, pelo Instituto de Economia da UFRJ.