A busca por mulheres e crianças vendidas como escravas pelo Estado Islâmico
Milhares de mulheres e crianças da minoria yazidi foram escravizadas pelo grupo radical Estado Islâmico (EI) no Iraque e na Síria há quase uma década; desde então, apesar de esforços para resgatá-las, muitas seguem desaparecidas.

Milhares de mulheres e crianças da minoria yazidi foram escravizadas pelo grupo radical Estado Islâmico (EI) no Iraque e na Síria há quase uma década; desde então, apesar de esforços para resgatá-las, muitas seguem desaparecidas.
O Estado Islâmico do Iraque e Levante (EI) é um califado com atuação terrorista que controla regiões no Iraque e na Síria e baseia sua ideologia em interpretações radicais de determinados princípios do Islamismo. Esse califado – um Estado que é governado por uma autoridade religiosa, o califa – foi criado em 29 de junho de 2014 e espalha o terror sobre a população das regiões que controla, perseguindo minorias e organizando ataques terroristas em outras partes do mundo.
Em 2014, milhares de mulheres e crianças da minoria yazidi foram escravizadas pelo grupo radical Estado Islâmico (EI) no Iraque e na Síria. Outros yazidis iniciaram uma operação de resgate quase imediatamente, mas hoje, quase uma década depois, a tarefa não está concluída.
Em novembro de 2015, Bahar e seus três filhos pequenos foram vendidos pela quinta vez. Ela foi uma das muitas mulheres yazidis que foram feitas prisioneiras pelo EI quando o grupo entrou em seu vilarejo no distrito de Sinjar, no norte do Iraque, 18 meses antes.
Os yazidis são uma minoria religiosa e étnica que vive no Iraque há mais de 6 mil anos, mas foram rotulados como “infiéis” pelo autodenominado Estado Islâmico.
O grupo já havia levado o marido e o filho mais velho dela. Bahar acredita que os dois foram baleados e enterrados em uma vala comum. A mulher lembra como ela e algumas crianças estavam todas enfileiradas em uma sala, chorando porque pensavam que seriam decapitadas. A realidade é que elas estavam sendo vendidas.
Bahar e seus filhos foram vendidos várias vezes, em todas situações ela foi agredida e estuprada. Um dia, quando Bahar e seus filhos estavam na casa de Abu Khattab, um carro com vidros escuros parou no local. O motorista estava vestido de preto e tinha uma longa barba — não parecia diferente de nenhum dos outros combatentes do EI. Bahar percebeu que estava sendo vendida novamente, junto com seus filhos.
Oprimida com a situação, Bahar gritou com o homem para matá-la. Ela simplesmente não aguentava mais. Enquanto se afastavam, o motorista lhes disse: “Vou levá-los para outro lugar”.
Bahar não sabia o que estava acontecendo e nem se deveria confiar no homem. Ela começou a ficar ansiosa. O homem ou o telefone para Bahar: era a voz de Abu Shuja, um homem conhecido por coordenar o resgate de muitas mulheres e crianças. Ela percebeu que o motorista comprou ela e seus filhos para que pudessem ser resgatados.
Mais de 6.400 mulheres e crianças yazidis foram vendidas como escravas depois que o EI capturou Sinjar. Outros 5 mil yazidis foram mortos no que a ONU chamou de genocídio.
Abu Shuja, que coordenou o resgate de Bahar, não era o único a se preocupar com mulheres e crianças sequestradas pelo EI. O empresário Bahzad Fahran, que vivia fora das áreas controladas pelo EI, montou um grupo chamado Kinyat para resgatar mulheres e crianças yazidis e relatar os crimes dos combatentes do EI.
Kinyat soube que os combatentes do EI estavam comprando e vendendo online mulheres yazidis sequestradas, principalmente por meio do Telegram.
“Nós nos infiltramos nesses grupos com nomes emprestados ou usando nomes de membros do EI”, diz Bahzad. Ele aponta para as impressões de conversas do Telegram que pendurou em suas paredes. Um deles está em inglês e promove uma menina à venda: “12 anos, não é virgem, muito bonita”.
Custou U$ 13 mil (cerca de R$ 63 mil) e foi vendida em Raqqa, na Síria. Então ele me mostrou a foto da garota posando sugestivamente em um sofá de couro.
Dos 300 mil yazidis que fugiram do EI deixando suas casas em Sinjar, quase metade – incluindo Bahar – continua vivendo em acampamentos na região curda do Iraque. Eles não podem voltar para suas casas no distrito de Sinjar porque ele foi quase completamente destruído. Além disso, sua posição estratégica na fronteira Iraque–Síria tornou-se um território perigoso, onde as milícias que vieram para combater o EI lutam entre si para alcançar a supremacia.
Elias diz que a comunidade tem medo de sofrer outro massacre a qualquer momento e, por isso, muitos yazidis estão emigrando.
“Para eles, a sensação de segurança é muito importante. É um grande tema. Eles não se sentem seguros.”
Comprar a liberdade de Bahar custou cerca de US$ 20 mil (cerca de R$ 97 mil). Ela está agora com 40 anos, mas parece mais velha. A maior parte do cabelo, que fica sob o véu, está grisalha. Ela vive no acampamento há oito anos desde seu resgate. Sentada em um colchão fino no chão de sua barraca, ela puxa uma pasta de plástico com fotos de seus parentes desaparecidos.
Bahar tem estado muito doente – física e mentalmente -, sem saber o que aconteceu com o marido ou o filho mais velho. Ela também está lidando com o trauma de ter sido estuprada em várias ocasiões. Seus filhos permanecem consigo, mas ela diz que eles ainda estão em estado de choque e ansiosos o tempo todo.
“Minha filha tem ferimentos devido aos espancamentos que sofreu”, diz ela. “Tenho que continuar lutando e continuar. Mas agora, e do jeito que as coisas estão, somos como mortos-vivos.”
Organização das Nações Unidas (ONU) desenvolveu uma série de objetivos ambiciosos no ano de 2015 por meio de um “Pacto Global”, que envolve os seus 193 países membros. O esforço em conjunto integra diversos setores dos países membros, como empresas, OSCs e a própria sociedade civil. Ou seja, todos devem somar forças para atingir as mesmas metas que, no final das contas, impactam a vida de todas e todos.
O ODS 3: saúde e bem-estar. Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos e em todas as idades. Está muito longe de ser alcançado. Com milhares de mulheres e crianças sofrendo diariamente nas mãos de terroristas ou rebeldes.
Fonte: g1