4 perguntas fundamentais para uma ação de impacto social de sucesso

Por Edmond Sakai
A pandemia da COVID-19 provocou um impacto sem precedentes no Terceiro Setor. Vivemos tempos novos, não apenas nas organizações não governamentais, e não só devido à pandemia.
Muitas coisas “sem precedentes” estão acontecendo recentemente, e continuarão a ocorrer. Os efeitos das mudanças climáticas são talvez o maior exemplo.
Para fazer frente a estes desafios, precisamos atualizar modelos, repensar premissas e, num nível mais básico, fazer novas e melhores perguntas que vão guiar as respostas que precisamos dar a esses novos desafios.
A teórica social e co-fundadora do projeto Creating the Future Hildy Gottlieb, em artigo recente no Stanford Social Innovation Review, delineia como as organizações sociais podem fazer perguntas melhores para criar um mundo melhor.
Ela argumenta que, geralmente, o trabalho de mudança social ainda está baseado em um framework guiado por “reatividade, suspeição e escassez”, herdado de modelos de planejamento militar e de negócios. Para superar esses modelos, ela propõe um framework de “pensamento catalítico”.
O que é pensamento catalítico?
A maioria das inovações sociais são focadas em ações. O pensamento catalítico sugere dar um o atrás, e avaliar o pensamento por trás destas ações. Quais são as crenças e suposições que, de forma invisível, embasam as decisões que tomamos?
Gottlieb afirma que essas suposições são respostas a perguntas que nem percebemos que estamos fazendo. Ela acredita que, para criar novas ações que respondam aos novos desafios do mundo atual, precisamos sair do framework de reatividade, suspeição e escassez para criar perguntas baseadas em premissas como:
- A não ser o que é fisicamente impossível, tudo é possível.
- Juntos, podemos realizar coisas que ninguém conseguiria realizar sozinho.
- Juntos, possuímos todos os recursos necessários para realizar mudanças.
Esse framework liberta nosso potencial das limitações que podiam fazer sentido no ado, mas que não precisam mais limitar nossas ações no presente e no futuro.
As limitações são representadas por perguntas como “qual é o problema e como vamos resolvê-lo?” e “de onde virá o dinheiro?” Essas perguntas são importantes, mas não cobrem todo o campo de possibilidades.
Para Gottlieb, as “novas perguntas” podem ser reunidas em três eixos:
- Pessoas: Quem será afetado e quem irá ajudar a efetuar a mudança?
- Propósito: Qual é o nosso objetivo?
- Recursos: O que precisamos para atingir esse objetivo?
Em relação às pessoas, o pensamento catalítico vai além do público-alvo de uma determinada ação para incluir todas as pessoas que podem vir a ser afetadas.
Sobre o propósito, esse framework considera a Visão não como um mero exercício de “aquecimento” antes de ar à prática, mas que o conjunto de potenciais resultados são a realidade que se pretende alcançar, considerando que (quase) tudo é possível.
Então, as perguntas devem ser feitas pensando nas condições e pré-condições necessárias para que essa visão se realize. No caso dos recursos, é necessário pensar que, atualmente, nem todos os recursos são algo que necessita de dinheiro para ser comprado. Muitos recursos hoje podem ser compartilhados, ou adquiridos por meio de permutas, por exemplo.
Algumas perguntas que a Creating the Future costuma fazer para guiar suas ações são: “O que é preciso para que nossa visão se torne realidade?”; “O que as pessoas precisam saber?”; “No que elas precisam acreditar?”.
Em resumo, essas perguntas refletem uma visão inclusiva e solidária, em que redes de instituições colaboram e compartilham recursos para fazer a diferença na vida de grupos cada vez maiores de pessoas.
Perguntas sobre como istrar eficientemente qualquer empresa do Terceiro Setor:
Em minha experiência, desenvolvi perguntas-chave que toda organização deve se perguntar. São elas:
- O seu MVV (Missão, Visão e Valores) é claro?
- As ações de seu departamento de programa e/ou de advocacy estão cumprindo com a Missão (quem sou), Visão (onde quero chegar) e Valores (como quero chegar lá) da ONG?
- A sua estrutura de captação de recursos é profissional (tem recursos para investir, gosta de inovar, gosta de se arriscar com base em uma estratégia e o staff tem uma remuneração competitiva)?
- O seu departamento de programa e/ou de advocacy atrai recursos financeiros?
Essas perguntas já fornecem um bom caminho para desenvolver uma ação de impacto social de sucesso. Mas vale o exercício de pensar além, utilizando o framework do pensamento catalítico para formular perguntas ainda mais inclusivas e que explorem todas as possibilidades. De qualquer forma, o bom planejamento começa pelo questionamento!
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Sobre o autor:
Edmond Sakai é Diretor de Relações Institucionais, Marketing e Comunicação da organização humanitária internacional Aldeias Infantis SOS Brasil. É advogado, foi professor de Direito Internacional na UNESP, professor de Gestão do Terceiro Setor na FGV-SP e Representante da “Junior Chamber International” na ONU. Recebeu Voto de Júbilo da Câmara Municipal de SP.
04/05/2022 @ 11:50
[…] o time de captação é estratégico para a entidade, pois sem recurso nada acontece. Com efeito, como já disse em um artigo anterior, é importante sempre ter em mente os três pilares da istração eficiente de uma empresa do […]