13º Congresso GIFE trouxe reflexões sobre desconcentração de poder
EventosPara Carolina Farias, da Prosas, o congresso realizou escuta ativa e apresentou diversidade de perspectivas, trazendo densidade aos debates sobre o terceiro setor e reforçando a urgência de rever práticas concentradoras

Por Lucas Neves
Entre os dias 7 e 9 de maio, ocorreu o 13º Congresso GIFE, evento que reuniu especialistas, lideranças e organizações sociais. Com o tema “Desconcentrar Poder, Conhecimento e Riquezas”, o congresso foi sediado em Fortaleza–CE, estando fora do estado de São Paulo pela primeira vez após 15 anos.
O propósito do evento é impulsionar novas práticas e redefinir o papel do terceiro setor na promoção de uma sociedade mais justa, debatendo os caminhos do investimento social privado no Brasil, a fim de fortalecer OSCs, ampliar as equidades sociais e impulsionar soluções para um futuro sustentável e democrático.
O Observatório do Terceiro Setor (OTS) conversou com participantes do 13º Congresso GIFE para entender o impacto causado pelas discussões promovidas nos 3 dias de encontro. Para Rodrigo Alvarez, diretor da Mobiliza e membro do Movimento por uma cultura de doação, o Congresso GIFE é o evento com a maior qualidade de debates sobre o futuro do setor.
“Minha percepção é que o Congresso vem, paulatinamente, se tornando não somente o espaço para debates sobre os investidores sociais/filantropos, mas um local para as discussões sobre a sociedade civil organizada. Isso é bom porque permite às OSCs colocarem suas pautas sobre o que esperam da filantropia (mais voltada para investir ‘na ponta’, com menos controle e mais confiança)”, disse Alvarez.
Enquanto captador de recursos, o diretor da Mobiliza considera fundamental a presença no evento, visando entender os movimentos e tendências do setor, além de construir conexões. No entanto, Alvarez não vê o congresso, necessariamente, como um local para captar recursos.
“Como o evento vem se transformando em um espaço onde as OSCs participam em maior número que os filantropos, arrisco dizer que o evento tinha mais gente captando do que gente doando. Também tenho dúvidas se as pessoas que realmente tomam as decisões sobre a qualidade das doações frequentam o evento. Enfim, se as OSCs querem chamar a atenção da filantropia, precisam estar no evento, especialmente como protagonistas, falando nas mesas. Isto, sim, chama a atenção dos doadores”, conclui.
Já Carolina Farias, da Plataforma Prosas, destacou a programação, considerando o Congresso GIFE uma oportunidade valiosa para refletir sobre os rumos do investimento social no Brasil. Segundo ela, o evento trouxe uma abordagem crítica e necessária sobre o papel das organizações no fortalecimento da democracia e na construção de agendas mais coletivas.
“Um ponto que me marcou foi a presença de vozes e experiências de diferentes territórios, especialmente de iniciativas que nascem fora dos grandes centros urbanos. Essa escuta ativa e a diversidade de perspectivas trouxeram densidade aos debates e reforçaram a urgência de rever práticas concentradoras”, comentou.
Carolina avaliou também quais foram os aprendizados mais relevantes que ela trouxe do congresso. Nesse sentido, ela citou a importância de perceber que a descentralização de recursos e conhecimentos não é somente uma decisão estratégica, mas um compromisso político.
“Os debates mostraram ser preciso abrir mão do controle como forma de redistribuir poder, fortalecer iniciativas de base e reconhecer saberes que historicamente foram invisibilizados. Isso implica transformar estruturas, escutar com abertura real e criar mecanismos de financiamento que respeitem os tempos e formas de organização dos territórios”, reforça.
O OTS também conversou com a comunicadora social, Kika Saez. Ela relembrou do tempo em que trabalhou no GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas), o que a fez perceber a importância e poder de diálogo da organização com pessoas, OSCs e estruturas de poder. “Quando você consegue avanços [em diálogos com esses agentes], isso tem um impacto no sistema e um potencial de radiar e de criar mudança”, comentou.
Apesar de acreditar que um evento como o Congresso GIFE não possa resolver as demandas da sociedade civil, Kika afirma que sua realização consegue contribuir com a influência de estruturas e espaços, além de pessoas que acumulam poder, riqueza e conhecimento. “Isso tem uma função muito importante para o mundo”.