Negócios de impacto e a urgência da mobilidade social no Brasil

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Imagem: adobe stock

 

Por Vitor Hugo Neia

A mobilidade social no Brasil ainda é um desafio estrutural. Embora o país tenha registrado avanços na redução da pobreza e no o à educação, a desigualdade de renda segue entre as mais altas do mundo. De acordo com o Banco Mundial, o Índice de Gini brasileiro é de 0,53, o que indica uma profunda concentração de riqueza. Em um cenário em que 25% da população vive em situação de extrema pobreza, a questão central não é apenas garantir renda, mas criar condições sustentáveis para que mais brasileiros possam ascender socialmente.

Diante desse cenário, uma pergunta se impõe: como garantir que mais brasileiros possam ascender socialmente e ter o a oportunidades reais de desenvolvimento?

Assim, os negócios de impacto social surgem como uma das respostas para esse desafio. Essas iniciativas combinam sustentabilidade financeira e impacto social, promovendo inclusão produtiva, inovação e desenvolvimento econômico. O estudo “Tese de Impacto pela Mobilidade Social – Caminhos de atuação dos negócios de impacto para a prosperidade socioeconômica no Brasil”, conduzido pela Fundação Grupo Volkswagen em parceria com a Artemisia, reforça que a mobilidade social exige uma abordagem integrada, indo além da educação para incluir a geração de renda e a inclusão financeira.

Segundo o relatório, 41% dos negócios de impacto no Brasil atuam na geração de renda, 31% na educação e 28% na inclusão financeira. Além disso, o estudo revelou que 75% das famílias brasileiras pertencem às classes CDE, indicando a necessidade urgente de iniciativas que promovam a ascensão econômica dessas populações. A pesquisa também aponta que regiões com infraestrutura precária e baixa oferta de serviços públicos apresentam índices significativamente menores de mobilidade social, reforçando a importância de políticas e investimentos voltados para esses territórios.

Experiências bem-sucedidas mostram que é possível transformar realidades por meio de soluções inovadoras. O Banco Pérola, por exemplo, oferece crédito produtivo a microempreendedores historicamente excluídos do sistema financeiro tradicional. Já a Muda Meu Mundo conecta pequenos agricultores ao varejo e à indústria, garantindo remuneração justa e promovendo sustentabilidade na cadeia produtiva. Essas iniciativas mostram que, quando há investimento adequado e um ecossistema favorável, a inclusão produtiva se traduz em ascensão socioeconômica.

Para ampliar esse impacto, três frentes precisam ser fortalecidas. A primeira é a educação, que deve ir além do ensino básico e estar alinhada às demandas do mercado de trabalho. Isso inclui formação técnica e profissionalizante, redes de apoio para permanência estudantil e estímulo ao empreendedorismo. Dados da tese apontam que a evasão escolar no Ensino Médio afeta milhões de jovens e compromete diretamente a mobilidade social no Brasil, reforçando a necessidade de investimentos que favoreçam a transição escola-trabalho e o o ao Ensino Superior.

A segunda frente é a geração de renda, com a criação de empregos formais e o fortalecimento de pequenos negócios. Muitas iniciativas nas periferias têm grande potencial de transformação, mas enfrentam barreiras como falta de crédito e dificuldades para escalar suas operações. Segundo o estudo, 60% dos microempreendedores de baixa renda têm dificuldades para ar crédito e e técnico, o que limita seu crescimento e capacidade de gerar emprego.

Por fim, a inclusão financeira é fundamental para garantir que mais pessoas possam estruturar suas trajetórias de ascensão social de forma sustentável. A tese destaca que cerca de 45% da população brasileira ainda não tem o a serviços financeiros adequados, o que impacta diretamente suas possibilidades de investimento e estabilidade econômica.

Promover a mobilidade social não é apenas um desafio econômico, mas um compromisso com um país mais justo e igualitário. Para isso, é essencial que o setor privado fortaleça negócios de impacto, que o poder público crie políticas de incentivo e que a sociedade civil se engaje na construção de um ambiente mais inclusivo. O Brasil precisa corrigir as falhas de seu elevador social e os negócios de impacto podem ser um dos motores dessa transformação.

 

*A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor

 

Sobre o autor: Vitor Hugo Neia, é diretor-geral da Fundação Grupo Volkswagen e Mestre em História Social pela Universidade de São Paulo


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